* Roberto Wagner

Por temperamento, não costumo me envolver em questões polêmicas, temendo, confesso, que, eventualmente, alguém possa fazer um juízo exageradamente equivocado a meu respeito. Faço essa observação porque o assunto que abordarei nesse, como sempre, humilde e despretensioso artigo tem potencial bastante para desencadear discussões acaloradas, quem sabe até o meu linchamento moral. Mesmo plenamente ciente disso, vou arriscar o pescoço e a reputação que, nessa quadra da vida, ainda me resta.
Pois bem, cara leitora, caro leitor, ou eu estou redondamente enganado, ou alguma coisa está errada com a reação de alguns membros do Ministério Público Federal, e de parte da chamada grande imprensa, diante do conteúdo das gravações feitas por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro.
Segundo o entendimento do procurador geral da República, Rodrigo Janot, as conversas gravadas por Sérgio Machado evidenciariam que o ex-presidente José Sarney e os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá já teriam conspirado ou ainda se encontram conspirando contra a Lava-Jato.
A não ser que outros trechos dessas conversas, até aqui mantidas em sigilo absoluto, revelem medidas concretas (concretas, vejam bem) que seriam adotadas, por iniciativa dos três, em desfavor da Lava-Jato, não consigo enxergar, nos diálogos que vazaram, qualquer ameaça séria (séria, vejam bem) à incolumidade e/ou continuidade das investigações em andamento.
O que dá para perceber, com nitidez e segurança, é a preocupação esboçada por Sarney, Renan e Jucá quanto à possibilidade de a Lava-Jato, no limite, pela vulneração de prerrogativas constitucionais, provocar odiosa cizânia nas relações entre os poderes da República, e, a partir do transbordamento desse limite, autêntica caça às bruxas de parte a parte, com prejuízos irreparáveis para a nação.
Que me perdoem os que pensam diferente de mim, mas acho que a obstrução da Lava-Jato, que teria ou estaria sendo arquitetada por aqueles que tiveram suas conversas gravadas, não passa, em verdade, da fala desmedida e destemperada, se muito, de quem, não sabendo, evidentemente, que estava sendo traiçoeiramente gravado, externou, a quem imaginava ser merecedor de sua confiança e amizade e com o qual podia, digamos assim, se abrir, opiniões que, em público, certamente não externaria, já que se tratam de opiniões que deixam a nu posições em franco descompasso com o que, sobre o assunto, pensa grande parte do povo brasileiro.
A grande pergunta a ser feita é: que crime, exatamente, teriam cometido ao declarar que, no bojo da Lava-Jato, excessos e extravagâncias estariam sendo cometidos? É isso que, ao meu simplório sentir, precisa ser enfrentado e avaliado. Enfim, na hipótese, repito, de não existirem conversas gravadas com teor muito diferente dos trechos que já foram divulgados, a “conspiração” supostamente encabeçada pelos três não passa de uma conspiração de araque, de faz-de-conta. A conspiração que realmente preocupa e mete medo é a que, sabe-se lá comandada por quem, ameaça colocar em perigo a governabilidade do País, com o inconfundível propósito de ver instalado nesse Brasilzão de meu Deus um verdadeiro estado policialesco, horror que já vivenciaram ou vivenciam, entre outros, a Rússia stalinista, a Alemanha nazista e a Coreia do Norte.
É hora, isso sim, de se meditar sobre o que diz esse velho e sábio provérbio persa: “A palavra que tens dentro de ti é tua amiga; aquela que deixas escapar é tua inimiga”.
Em tempo: por conta dessas conversas gravadas, foi pedida a prisão de Sarney, Renan e Jucá. Caso o Supremo Tribunal Federal acolha tal pedido, restará consumada uma heresia jurídica sem precedentes: alguém ser preso por um crime que, no máximo, apenas se pode supor que pretenderia cometer. Que Deus nos livre do horror de que vos falei acima. Até a próxima.

Advogado *