Maria de Lourdes e mais dois moradores comentaram o caso

Hemerson Pinto

De um lado um filho da comunidade e com sintomas de que sofria de problemas mentais. Do outro, um jovem pai de família, trabalhador e amigo de todos no pequeno povoado Olho D’Água dos Martins, zona rural de Imperatriz. Os dois viviam na mesma vila e perderam as vidas depois de se enfrentarem. Ricardo, com uma faca, tirou a vida de Frankilane, e o mesmo Ricardo foi espancado até a morte.
“Eu moro há 43 anos aqui e nunca tinha visto uma coisa como essa acontecendo aqui no Olho D’Água. Os dois viviam aqui com a gente no nosso meio e de uma hora para outra se acabaram assim: um matando o outro e sendo morto pela população. Apenas o Frankilane tinha pedido para o Ricardo levar no balcão do comércio um carote que ele tinha usado para comprar gasolina. Por isso, morreu esfaqueado”, comentou o aposentado Pedro Rodrigues.
Segundo seu Pedro e vários moradores do povoado e povoados vizinhos, Ricardo sofria há muitos anos com distúrbios mentais. “Até o pai dele já havia saído de casa depois que o filho tentou matar ele. Ele era violento e vivia aqui no nosso meio. Batia em um, corria, agredia ou xingava outro. Andava como se fosse espantado. Qualquer pessoa perto dele podia ser encarada como uma ameaça a ele”, comenta um comerciante.
A presidente do Fórum de Defesa das Comunidades da Estrada do Arroz, Maria de Lourdes, confirmou o depoimento do comerciante, que não quis se identificar. “Era uma pessoa que parecia não ter mais controle sobre si. Sabíamos disso há muito tempo, mas ninguém podia fazer nada. A família, gente muito simples, não sabia onde buscar apoio e infelizmente terminou assim. Ele tirando uma vida e tendo a vida tirada. Tragédia que nossa comunidade nunca vai esquecer”, lamenta.
Dona Lourdes afirma que há um ano o Fórum da Estrada do Arroz tentou ajudar Ricardo, que recusou a visita de dois psiquiatras levados ao povoado com a missão de iniciar o acompanhamento ao rapaz. “Os médicos vieram, mas não puderam nem chegar perto dele. Estava agitado, não quis saber. Eles passaram um medicamento, mas não tinha nem quem acompanhasse se ele estava usando”.
Liderança na comunidade, dona Lourdes disse que o ocorrido com Frankilane, atacado por Ricardo por motivo fútil, poderia acontecer com qualquer pessoa. “A gente se sente ainda mais abatida quando lembra que tentamos ajudar, mas não foi possível, até porque hoje não temos mais onde internar pessoas como o Ricardo. A clínica psiquiátrica está desativada. É o momento de levantar essa discussão e cobrar do governo a reativação da clínica com toda a estrutura necessária para tratar e acomodar pessoas que não estão em condições de estar no convívio social”.
Depois que a clínica psiquiátrica foi desativa, os casos de pessoas com transtornos mentais passam a ser atendidos no Núcleo de Atenção Integrada à Saúde de Imperatriz - o Naise, que funciona no Complexo de Saúde do Parque Anhanguera. O atendimento existe, mas a internação é durante horas ou poucos dias, apenas quando o paciente está agressivo e até ser controlado com medicamentos.