Francimar Moreira

Alguns pregadores de mentiras e ilusõesque andam por aí hipnotizando incautos,com suas palestras magnetizadas por frases de efeitos e teses desprovidas de qualquer sentido lógico, vêm pregando, pelo Brasil afora, que devemos usar nossos recursos em proveito próprio: gastando com viagens, passeios turísticos, aquisições de objetos suntuososde adorno para o lar ou pessoal; enfim, incitam-nos a viver em ostentação, mesmo sabendo queisso, além de ser uma bestialidade, aindahumilhaa maioria dos que circulam entre nós.
Os cínicos e vigaristasque, aliás, andam faturando alto, vendendo curas para conflitos familiares e existenciaisà moda de João de Abadiânia,Edir Macedo e outros charlatões, chegam ao cúmulo do absurdo, quando proclamam que não devemos nos preocupar em deixar algum patrimônio (tangível ou intangível?)  parafilhos e netos. “Eles que trabalhem e conquistem... que é para aprender a dar valor” – dizem despudoradamente.
Alguns vigaristas mais afoitoschegam, inclusive, a sugerir, descaradamente, que paremos de trabalhar, quando acharmos que o patrimônio que possuímos já é suficiente para nos manter pelo resto da vida.Ora, que estupendo besteirol o que esses canalhas estão pretendendo incutir em cabeças ocas! A serviço de quem estão? Creio saber! Mas para destrincha-lo precisaria escrever um tratado sobre sociologia, política e economia; para o que não me sinto preparado. 
 Somente cabeças ocas, pode se deixar levar por tão imbecis argumentos. Se alguém tem 50 anos, como um exemplo que viem um vídeo, não sabe se vai viver até os 80 ou 120 anos. Além do mais faz parte da natureza humana, nutrir sentimentos de amor e desejo de prosperidade às suas criaturas; logo é natural que genitores movidos por essas virtudesdesejem legar aos seus uma situaçãominimamente organizada: deixando-lhesuma poupança ou qualquer patrimônio – seja material ou mesmo do campo do conhecimento técnico.
Até mesmo porque a evolução da humanidade se dá graças ao trabalho duro, estudos e aprendizado, com determinação e acúmulo de conhecimento e patrimônio. É assim que as gerações passadas vão legando às futuras um mundo mais evoluído e humanizado.
Discordar dos altruísticos sentimentos ancestrais é ignorar o BEM que faz aos descendentes um antepassado que lhes deixou ou vier a deixar uma poupança, que, em uma hora de extrema aflição, possa garantir o tratamento de uma doença grave que acometera ou vier acometer um seu descendente querido. Logo, incentivar que gastemos os nossos recursos sem nenhuma preocupação com nossas criaturas, é tripudiar sobre o mais nobre de todos os sentimentos da espécie humana – o inato sentimento de amor fraternal.
Seria uma profunda demonstração de cinismo e burrice fingirmos que não sabemos que a mais forte aspiração que anima o ser humano é o deproteção e preservação de sua espécie.Logo seria umaintolerável imprudência a indiferença com o futuro da prole, sobretudo, com as condições materiais e estruturais que podem levá-la a sofrer terríveis dificuldades, por falta de iniciativas e amor de seus ancestrais.
Afinal, o que seria das futuras gerações se não encontrassem casas, estradas, hospitais, escolas, automóveis e tantos outros utensílios, imprescindíveis a um mínimo de conforto e bem-estar?! Ora, se enquanto espécie nos sentimos movidos por um sentimento inato, a nos preocupar com nossos semelhantes, imaginemos esse anseio ampliado pelo fator familiar e a certeza de que nas veias dos descendentes corre sangue com nosso gene.
Aliás, já é considerada mundialmente doença mental, a compulsão por consumir e perambular. É comum pessoas possuindovárias dezenas de pares de sapatos, alguns que até nunca foram usados. São públicos e notórios os congestionamentos e os fuzuês em rodoviárias, aeroportos e estradas. É alarmante a quantidade de acidentes e mortes nos períodos de férias, carnaval e feriados prolongados. E mesmo assim, ao invés de pregação por uma vida parcimoniosa e sossegada, opta-se por uma publicidade criminosa, induzindo as pessoas inocentes a gastarem e a peregrinarem.
Certamente, não estamos sugerindo que se deixe de passear, de visitar a terra natal, os parentes e até conhecer lugares interessantes de nosso País. Mas isso deve ser feito de forma parcimoniosa, sem sacrificar poupanças para as futuras gerações. Quanto aos giros internacionais, acho um despropósito alguém gastar dinheiro viajando, por exemplo, para a Grécia sem nem sequer saber o que foi a guerra de Tróia, ou para a França, sem compreender as razões do levante de 1789. Mais proveito teria, lendo alguma coisa sobre a luta de gregos e troianos e a chamada revolução francesa.
Após uma palestra de um desses malabaristas de frases feitas, em Imperatriz, ouvi algumas pessoas advogando a ideia de que iam sim, seguir os conselhos do charlatão. O que não é novidade.  Milhares seguiram orientações de vigaristas como Edir Macedo e João de Abadiana, ou até do pai de santo JR (personagem do meu conto “pai de santo no banco dos réus”), e venderam tudo o que possuíam e deram o valor apurado aos vigaristas.
E existem,ainda, as considerações de Aristóteles, o genial filósofo grego: “A suprema virtude humana está na capacidade de amar e desejar o bem”. Que bem faz os genitores que desperdiçam seus recursos e deixam a prole “a ver navios”?! Uma poupança, em nome de um filho ou neto, disponibiliza o recurso para que o governo invista em prol de toda a sociedade, e pode socorrer o beneficiário ou um seu ente querido em uma emergência.
Logo, temos, sim,o dever moral, ditado pela racionalidade, a consciência e o sentimento de amor, de construir e preservar benefícios para as futuras gerações, eesse dever se amplia exponencialmente, quando se trata de facilitar e resguardar a vida de nossas próprias criaturas, de nossos descendentes.