* Roberto Wagner

Conforme já mencionei em artigo anterior, tive o prazer de acompanhar, ano passado, a elaboração da monografia apresentada por Bruno Lima Cruz. Em trabalho acadêmico magistral, cuja leitura volto a recomendar a todos quantos queiram se aprofundar no assunto, esse hoje talentoso jovem advogado, indiscutivelmente um dos mais preparados da nova geração, traz a debate (debate sério, faço questão de acrescentar) temas centrais da criminologia, dando, assim, importantíssima contribuição para o delineamento de uma efetiva e factível política de prevenção e combate do fenômeno delituoso como um todo.
Impressiona-me, principalmente, nessa monografia, o fato de, aqui no Brasil, não dispormos de dados e informações realmente confiáveis sobre esse grave distúrbio de comportamento chamado crime. E quando falo “não dispormos” estou me referindo, em primeiro lugar, ao próprio poder público, como a referida obra, aliás, deixa patente. Para resumir, nossas autoridades, para a elaboração de uma política voltada para a prevenção e combate à criminalidade, contam com bases estatísticas, via de regra,  irreais. É óbvio que com esse desconcertante pano de fundo, fica-se quase num beco sem saída para enfrentar, com chances de sucesso, tão incômodo e angustiante problema.
Essas considerações que mais uma vez faço acerca do, sem nenhum exagero, estupendo trabalho jurídico em foco vêm a propósito da brutal escalada da criminalidade, no País todo, que, assustados e impotentes, estamos assistindo nos dias atuais. Se não estou enganado, é de Caetano Veloso a letra (a música,  se também não me falha a memória, é de Gilberto Gil) de uma canção que diz o seguinte: “O Haiti é aqui”. Pois podem apostar: logo, logo, vai aparecer alguém dizendo, para retratar a violência vivida pelos brasileiros, coisa do tipo “A Síria é aqui”.
Assusta-nos, sobretudo, saber que esse quadro de violência urbana extrema, inclusive com o crime sendo cada vez mais banalizado, parece não se sentir sequer arranhado pela ação das forças que tentam erradicá-lo. Uma determinada comunidade da cidade do Rio de Janeiro é ocupada pela Polícia Militar? Não tem problema: a bandidagem que ali reinava trata de se  transferir para uma outra comunidade e assim a novela dessa tragédia vai se desenrolando, com as coisas mudando exatamente para ficarem do jeito que estavam. É que o lençol é curto. Quando se cobre uma parte do corpo, deixa-se outra a descoberto.
Aqui em Imperatriz, como não poderia deixar de ser, o cenário não é diferente. Ninguém duvida que as intenções daqueles que se acham à frente das polícias Civil, Militar e Federal locais são as melhores possíveis. Esses abnegados dirigentes, porém, não são mágicos; não conseguem pôr na cartola boas intenções e dela tirarem a solução da criminalidade que campeia na cidade. Essa solução, como até as pedras sabem, é de uma complexidade extraordinária. Como Bruno Cruz deixa subentendido, o fenômeno criminológico é multifacetado; por consequência, qualquer ação que vise enfrentá-lo também há de ter múltiplas facetas. Esse é um desafio, não nos enganemos, que vai além das ações governamentais. Fundamentalmente, é um desafio de todos. Sem que todos, poder público e sociedade civil, o enfrentem, a criminalidade não diminuirá seu crescente e desenfreado fluxo.
Acredite, caro leitor, cara leitora: balas, por si só, não resolverão o problema da criminalidade. Aliás, nunca resolveram. Lembremos o grande mineiro Otto Lara Resende, uma dos maiores jornalistas e escritores que este País já teve, falecido em 1992: “O tiro que mata o criminoso não mata o crime. Na forca só se pendura um cadáver.” Pensemos nisso.

Advogado*