por Rosângela Melo*
Quando era menina, nos idos anos 70, época que tudo era mais difícil e demorado, lembro que, quando eu e meus manos adoecíamos, a cura geralmente vinha de chazinhos de folhas de laranjeira, de um comprimido rosa chamado “Melhoral Infantil” e o melhor de toda a cura, um caldinho quentinho de galinha, cheirava de longe, e mesmo nós moribundos, espertávamos rapidamente para nos deliciarmos com aquele requinte. Mamãe ordenava: tomem tudo! Amanhã estarão brincando com os outros!
Hoje percebo que aquele caldo era ralo, regrado como tudo naquela época. Mas por que cheirava tanto? Por que para os doentinhos parecia manjar dos deuses? - Ah, meus amigos, respondo sem pensar muito: - Era feito pela melhor mãe do mundo! Era com todo esmero que preparava aquela delícia. Era com carinho de mãe preocupada com seus filhos que cozia, e o milagre acontecia! Tomávamos o caldo. Suávamos a febre e no outro dia estávamos todos brincando no quintal.
Sempre gosto do cheiro e do sabor de caldos, daí quando soube pelo professor Ricardo Coelho que no CE Caminho do Futuro teríamos um projeto chamado “Caldo da Amizade”, vibrei, reportei-me à infância, aos cuidados de minha mãe, foi inevitável, pois acho que a proposta desse projeto é a mesma de uma mãe que zela pelos seus filhos precisados e carentes de cuidados.
Sinto-me feliz por trabalhar numa escola que têm jovens que “vendo doer a fome nos meninos que têm fome” não ficam inertes, juntam-se e compartilham de forma amiga um caldo que revigora, anima. Como eles dizem, toda essa ação é top, não é mesmo?
Sim! É top! É dez! É maravilhoso ver meninos e meninas de minha Imperatriz fazer o bem, praticar diariamente a empatia e a cidadania, construir através das mãos cheias de amor e afeto, o amor por intermédio de um caldo, que assim como na minha infância, faz milagre, faz melhorar, não somente pelo alimento, mas por saber que tem quem se preocupe e cuide da gente.
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