Por DIÓGENES Dantas Filho

As únicas semelhanças entre os processos de impedimento movidos contra COLLOR, em 1992, e DILMA, no ano em curso, são as seguintes:
- os dois casos são absolutamente legais, convalidados pelo Supremo Tribunal Federal e previstos na Constituição;
- ambos foram considerados culpados no julgamento na Câmara dos Deputados e seus processos encaminhados ao Senado;
- os dois foram abandonados por correligionários e traídos por falsos amigos.
Se Dilma também for impedida no Senado Federal, haverá mais uma semelhança.
No mais, tudo é totalmente diverso:
- COLLOR conquistou a antipatia da população ao confiscar a poupança, enquanto o governo petista fez, realmente, expressivas medidas de alcance social;
- COLLOR foi denunciado pelo irmão, acometido de insidiosa doença, e dispunha de expressiva sobra de campanha administrada por PC FARIAS, já que o PRN era um partido nanico e sem lideranças expressivas, excetuando o Presidente;
- uma Fiat Elba liquidou com os argumentos de defesa de COLLOR;
- o processo contra DILMA ficou limitado às “pedaladas fiscais” e as verbas, legais ou não, sempre foram geridas pelo PT que domina o país há mais de 13 anos;
- ao contrário de DILMA, COLLOR não contou com base política de sustentação e com contagiante defesa do Advogado Geral da União;
- a delação do Senador DELCÍDIO DO AMARAL, apesar de não ter relação com o “pecado fiscal”, contagiou a oposição e a opinião pública tendo efeito semelhante ao papel desempenhado pelos “caras pintadas” em 1992;
- o “caçador de marajás” não teve um defensor que possa se comparar ao ex-presidente LULA;
- COLLOR foi impedido em outubro daquele ano, às véspera das eleições, o rito de julgamento foi meteórico e não haveria melhor palco para o voto aberto dos oposicionistas no plenário da Câmara;
- para DILMA ainda faltam 6 meses para as eleições nacionais e conta com a simpatia, até então, do Presidente do Senado, onde ocorrerá o epílogo da novela;
- o governo Collor tinha cinco Ministérios Militares coesos com o poder decisório para manutenção da ordem e DILMA de nada dispõe, neste nível, já que, inclusive, extinguiu a tradicional e histórica Casa Militar subordinando-a ao Gabinete Civil;
- a suspensão de COLLOR foi tranquila e de DILMA, na Câmara dos Deputados, foi traumática, radical e violenta dando margem a um país dividido onde a luta de classes foi incentivada;
- a transição com ITAMAR FRANCO durante os meses de julgamento no Senado transcorreu normalmente e o mesmo não será com TEMER por motivos diversos;
- COLLOR não se transformou em herói ou vítima e DILMA, dependendo da evolução dos acontecimentos e do pretenso golpe que divulga freneticamente, poderá sair vitoriosa na derrota já que os brasileiros e latinos mudam de opinião da noite para o dia;
- COLLOR renunciou quando o processo estava no Senado, mas foi impedido definitivamente não sendo acatada a sua decisão, enquanto DILMA já afirmou, reiteradas vezes, que não o fará;
- hoje, as redes sociais na Internet - inexistentes no início da década de 1990 - influenciam a opinião pública divulgando mentiras e meias verdades que acirram os ânimos;
- não havia ambiente em 1992 para o manuseio da máquina administrativa em favor do governo nos moldes do que hoje ocorre;
- COLLOR, após o parecer da Câmara dos Deputados, contou com ínfimo dispositivo de apoio na Casa da Dinda, aprovado por ITAMAR, enquanto DILMA tudo terá até o final do processo no Senado, quando será definido se continuará, ou não, na Presidência da República;
- anos depois, COLLOR retornou à política como Senador e o que ocorrerá com DILMA nos próximos meses? Será “carta fora do baralho”, como diz?
Qualquer que seja o final do filme, temos de orar para que não haja conflitos nem radicalismos, que prevaleça a democracia e que nosso país saia fortalecido da atual crise, de toda a ordem, jamais vista em nossa História republicana. Que não haja guerra entre os exércitos da democracia e o de STÉDILE!
O ex-presidente LULA é peça fundamental para evolução pacífica dos acontecimentos. A sua liderança, apesar de abalada por denúncias de corrupção, é inquestionável e ele deve ter em vista, prioritariamente, as eleições de 2018.

DIÓGENES Dantas Filho é Coronel R1 do Exército Brasileiro, ex-Comandante do 50º Batalhão de Infantaria de Selva (50º BIS) e Doutor em Planejamento e Estudos Militares.