Caro Coló,
Dizem que o sacerdócio e o vício do trabalho são parentes próximos. Parece-me uma das pequenas verdades da vida. Aqui entendidos como determinação, persistência, amor ao trabalho diário e caprichado, ao companheirismo, à convicção de que tudo que se está fazendo emerge da trama maravilhosa do respeito, da tolerância, da humildade e da entrega franca ao ofício de nos relacionarmos com o mundo.
Recomeçar, revigorado, é matar a sede, calmamente, das expectativas e esperanças da calada consciência que nos guia na vereda da vida.
Quem o conhece sabe do seu vício incurável pelo jornalismo impresso, desde lá atrás, nas soturnas mas alegres oficinas, com a turma da paginação, amarrando, literalmente, as páginas da edição seguinte com seus tabletes de chumbo, clichês e títulos compostos letra a letra.
O cheiro de tinta, o tiquitaquear das máquinas, o barulho e a confusão da redação, as brincadeiras dos colegas, as dificuldades e alegrias, a pressão do tempo e do conhecimento para redigir um texto. O bom e o ruim do ser humano, bem ali, ao alcance da mente e dos dedos, de frente para a lauda virgem, dominando a velha máquina de escrever, para registrar o cotidiano, as fragilidades e as grandezas de um povo.
Nesses tempos de frivolidades monumentais, do estrelato fácil da comunicação instantânea, dos pequenos urrando como gigantes, cavar seu cantinho, dia a dia, durante essas mais de duas décadas, na fila dos silenciosos que desbravaram nossa imprensa, o respeito de seus leitores e de seus amigos é o reconhecimento pelo cumprimento da pauta, exata e verdadeira, da profissão que lhe escolheu.
A Meta não é o Fim, é o Eterno Recomeço. Parabéns pela volta.
Sempre grato pela oportunidade de também, timidamente, fazer parte dessa história maravilhosa.
Fraterno abraço.
Carlos Gaby
Publicado em Cidade na Edição Nº 14724
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