Celebração das águas na margem do rio Tocantins

Domingos Cezar

Realizado no período de 30 de novembro a 2 de dezembro, em Miracema (TO), o Encontro dos Povos e Comunidades da Bacia Araguaia e Tocantins. Motivado pela REPAM-Brasil, o evento faz parte do processo de escuta em preparação ao Sínodo para a Amazônia. No final foi redigida uma carta aberta com uma série de denúncias.
Eis alguns trechos da carta: "Somos anciãos, jovens, mulheres, homens e crianças, somos comunidades tradicionais e povos indígenas Tapirapé, Gavão, Karajá, Apinajé, Suruí, Krahô KrahôTakaywrá, Kanela do Araguaia, Xerente, Krahô-Canela, quilombolas, quebradeiras de coco, pescadores, ribeirinhos, camponeses, acampados, sem terra, assentados.
Movidos pelo espírito missionário e voluntário, sintonizados com o Papa Francisco e o cuidado com a casa comum, manifestamos nossa preocupação com as condições de degradação e ameaças que se encontram nossos rios Araguaia e Tocantins.
Neste encontro, também de escuta do Sínodo para a Amazônia, refletimos sobre as condições das veredas, nascentes, riachos e ribeirões, formadores dos pequenos, médios e grandes rios destas bacias. Avaliamos de forma crítica e objetiva sobre as ameaças e agressões cometidas contra os nossos rios e territórios.
Com profetismo, denunciamos os crimes que estão sendo cometidos contra a vida das bacias destes dois rios, afetados e impactados de maneira imprudente por atividades da mineração, agronegócio, pecuária e desmatamentos. Estão desviando o leito dos rios para atender propriedades particulares fazendo o rio encher e esvaziar.
Debatemos com sabedoria e razão sobre o passado, o presente e o futuro de nossos rios, que outrora eram cheios de vida, onde existiam farturas de peixes, tartarugas, tracajás e pássaros de todas as espécies, agora ameaçados de extinção pela ganância do capital.
Reafirmamos o nosso compromisso de denunciar nos maiores tribunais o roubo das nossas águas para favorecer o capital. Estamos questionando e resistindo contra as marcha da insensatez que destrói o cerrado e avança sobre os rios. A guerra, a injustiça e a tirania estão na ordem do dia.
Oferecemos nossos contos, orações, poesias e canções exaltando nossos rios de vida, tesouros da criação.  Temos sede de justiça, queremos paz e bem viver para os rios. Que os mártires da terra e das águas nos iluminem, para sermos profetas da esperança e da resistência na defesa e proteção de nossa Casa Comum".