*Roberto Wagner
Temos assistido, entre envergonhados e perplexos, a cada fase da Operação Lava-Jato, o surgimento de escândalos e mais escândalos envolvendo senadores e deputados federais. Ressalte-se que alguns desses parlamentares, até outro dia, posavam de pessoas honestas e confiáveis. A coisa chegou a tal ponto que já não dá mais para apontar, com absoluta segurança, quais congressistas têm conduta verdadeiramente ilibada. A sensação é de que bem poucos são efetivamente sérios e bem-intencionados.
Você, cara leitora, caro leitor, deve estar se perguntando: será se sempre foi assim? Será se, em outros tempos, reinava a mesma safadeza? O que explica essa compulsão, a dos nossos parlamentares, para se meterem em roubalheiras? Mas duvido, perdoem a minha franqueza, que tenha se feito a pergunta, ao meu ver, fundamental: em que medida você tem contribuído para que essas coisas ocorram?
Sejamos sinceros: praticamente ninguém, nem mesmo o eleitor que vota sem pedir nada em troca, dá a mínima para o fato de um deputado federal gastar, para se eleger, 2, 3, 5, 10 milhões de reais, ou até mais do que isso, enquanto que, nos quatro anos de mandato, receberá a quantia de pouco mais de um milhão de reais, que, com os descontos de praxe, se reduzirá para menos de 800 mil reais. Para se eleger senador, aí mesmo é que a gastança vai para as alturas.
Como essa conta não fecha nunca, é lícito supor que os candidatos que se elegem hão de recorrer a expedientes escusos (ou não republicanos, para usar uma expressão da moda) para recuperar os milhões gastos na campanha, que, na maioria dos casos, são bancados por “doadores” para lá de suspeitos.
Resumo da ópera: o eleitor deveria se importar – e muito, aliás – com campanhas milionárias. Desconfiemos de candidatos, seja a que cargo eletivo for (atenção: seja a que cargo eletivo for!), que esbanjam dinheiro. Se eleitos, não tenha dúvida: cobrarão a fatura e será você, cara leitora/eleitora, caro leitor/eleitor, que pagará essa conta, já que os recursos públicos que são desviados também saem de seu sofrido bolso.
Que a providência divina não permita que, em meio ao estrondoso descrédito que atinge os políticos brasileiros de modo geral, comece a perder força e prestígio o entendimento, que com o tempo elevou-se à categoria de verdadeiro dogma, de que não é possível haver boas leis nem governos decentes sem um poder que tenha por finalidade elaborar tais leis e fiscalizar se os governantes fazem bom uso dos recursos públicos. Se isso algum dia ocorrer, é sinal de que, finalmente, teremos chegado ao fundo do poço.
Advogado*
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