Raimundo Primeiro
Preocupada com o aumento da violência no Estado, inclusive com os homicídios registrados nos presídios maranhenses, sobretudo no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, cujos reflexos culminaram com a morte da menina Ana Clara, de 6 anos, quando marginais atearam fogo num ônibus, em São Luís (capital), a Igreja Católica, durante reunião dos bispos da Regional 5 da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), localizada no Maranhão, decidiram elaborar um documento manifestando-se publicamente sobre o caso que alcançou repercussão internacional.
Por meio do documento, intitulado 'Carta ao Povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade', os bispos denunciam a cultura da violência presente no Estado. Em um dos trechos, destacam que "não é este o Estado que Deus quer", acrescentando que "não é este o Estado que nós queremos!".
Os bispos da Regional 5 Nordeste da CNBB ressaltam que 'Justiça e paz se abraçarão' (SI 85,11), fazendo uma convocação aos fiéis para a realização de um gesto concreto em 2 de fevereiro (domingo), Festa de Apresentação do Senhor, Luz do mundo, e de Nossa Senhora das Candeias.
Procurado pela reportagem na manhã de quinta-feira (23), o bispo da Diocese de Imperatriz, Dom Gilberto Pastana, reafirmou que o ato vai acontecer "em todas as comunidades, com uma caminhada silenciosa à luz de velas, por ocasião da celebração". O religioso estava na Cúria da Catedral da Igreja Católica em Imperatriz, localizada na Igreja Nossa Senhora de Fátima, Centro.
"Ainda estão vivas em nós a forte emoção e dor, provocadas pelos últimos acontecimentos no Estado do Maranhão - a morte violenta de Ana Clara, criança de seis anos que faleceu após ter seu corpo queimado nos ataques a ônibus; os cruéis assassinatos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas; o clima de terror e medo vivido na cidade de São Luís", frisam os bispos da Regional Nordeste 5 da CNBB, aqui no Maranhão.
O documento continua observando que "a agressão está presente na expulsão do homem do campo; na concentração das terras nas mãos de poucos; nos despejos em bairros pobres e periferias de nossas cidades; nos altos índices de trabalhadores que vivem em situações de exploração extrema, no trabalho escravo; no extermínio dos jovens; na autodestruição pelas drogas; na prostituição e exploração sexual; no desrespeito aos territórios de indígenas e quilombolas; no uso predatório da natureza".
Cárceres cheios
de jovens
Em outro trecho, os bispos assinalam que "esta cultura da violência, aliada à morosidade da Justiça e à ausência de políticas públicas, resulta em cárceres cheios de jovens, em sua maioria, negros e pobres". Segundo eles, "o nosso sistema prisional não reeduca estes jovens. Ao contrário, a penitenciária transformou-se em uma universidade do crime. Não nos devolve cidadãos recuperados, mas pessoas na sua maioria ainda mais frustradas que veem na vida do crime a única saída para o seu futuro".
Caminhada contra a violência acontece hoje em Imperatriz
O bispo da Diocese de Imperatriz, Dom Gilberto Pastana, convoca a comunidade imperatrizense para uma caminhada silenciosa à luz de velas, que vai ser realizada hoje (2), a partir das 18h30, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, no centro comercial da cidade (Praça de Fátima).
O objetivo é chamar a atenção das autoridades para o aumento da violência no Estado, vitimando, inclusive crianças, caso da menina Ana Clara, 6 anos, que morreu após ter mais de 80% do seu corpo queimado durante ataque criminoso ao ônibus em que ela, a mãe e a irmã estavam, em São Luís.
Dom Gilberto Pastana reafirma que a caminhada acontece em todas as comunidades, já que os bispos da Regional 5, no Maranhão, denunciam, por meio do ato, "a cultura da violência presente no Estado".
"Invocando a proteção de Nossa Senhora, Rainha da Paz, rogamos que o Espírito nos oriente no sentido de assumirmos nossa responsabilidade social e política para construirmos uma sociedade de irmãs e irmãos que convivam na igualdade, na fraternidade e na paz", ressalta documento elaborado pelos bispos maranhenses, durante recente reunião. (RP)
Comentários