Por Raimundo Primeiro

Será que mudou alguma coisa? O Governo Federal fechou todos os hospitais psiquiátricos do país, os chamados manicômios.

 Vamos, portanto, ao assunto em questão, ao tema que enfocarei hoje. O texto ora publicado, não é novo, o escrevi já faz um tempo. Entretanto, é inédito. O encontrei essa semana, lá no recôndito do meu quarto, dentro de uma caixa, dentro de uma revista, entre diversos livros.

“Nada mudou nas instituições psiquiátricas brasileiras”.

Esta frase contundente, do escritor Austregésilo Carrano Bueno, autor do livro que inspirou a cineasta Lais Bodansky a produzir o filme “Bicho de Sete Cabeças”, explosão do cinema brasileiro no primeiro semestre de 2001, chamou minha atenção para a questão – gravíssima, aliás, que vive o sistema psiquiátrico brasileiro, principalmente nas regiões distantes dos chamados grandes centros, caso do Nordeste, por exemplo.

É aqui, como mostram as pesquisas, onde o problema toma proporções dantescas – até parecendo inelutáveis. E, contra o que não se pode lutar, fica difícil (pelo menos à primeira vista) encontrar soluções, por um ponto final no assunto, agradando, desta forma, a gregos e troianos, ou seja, a todas as partes envolvidas.

Sem dúvida, quando internado (ainda adolescente) por problemas relacionados a sua crise de identidade, Carrano descobriu os universos delicados e desconhecidos da loucura (com virtudes e defeitos), com sentimentos.

Tinha, sim, seus momentos de crises, de distúrbios mentais, mas voltava para si uma realidade não diferente da nossa – antes mesmo do tempo previsto, na visão dos especialistas, que, por questões que estão além, muito distantes, dos princípios éticos, eram os grandes responsáveis por praticar atos que não se desenhavam nas mentes da maioria das pessoas (e este número é substancioso).

Aí, logicamente, os maus tratos sobressaiam-se. Acho porque eles queriam resolver, mesmo que paulatinamente, o assunto. Tudo valia. A palavra de ordem era agir com força, abrupta e rapidamente, sem pensar nas consequências, que resultados obteriam.

“Bicho de Sete Cabeças”, sem medo de errar, é, com certeza, um filme polêmico, atual – mas, mais do que isto: um documento, uma prova real e inconteste do que continua sendo o sistema psiquiátrico brasileiro – com hospitais (os tais de manicômios ou hospícios) totalmente desaparelhados e com funcionários despreparados emocional e psicologicamente. Isto sem mencionar que suas estruturas e políticas de atendimento/funcionamento, estão todas desatualizadas e carcomidas. Não conseguiram acompanhar o processo evolutivo por que as coisas passaram e continuam passando. Tudo, hoje, está, queira ou não, dependente da tecnologia. Essa é a grande realidade!

A prova cabal é que os grandes hospitais estão todos com aparelhos conectados, que funcionam por meio de auxílio direto do computador, esta maravilha do século 21!

É preciso obstinguir o sistema psiquiátrico brasileiro também ao lado sensível de seus componentes, pois eles não são máquinas. Como os pacientes, os internos, eles também são seres humanos e têm problemas – os mais distintos possíveis. Afinal, o tema humanizar a máquina é polêmico e gera demoradas e constantes discussões.

Na condição de cinéfilo, um apaixonado por cinema e, principalmente, filmes nacionais (desde que tenham qualidade), vibrei com o sucesso do filme e, obviamente, o assunto trazido à baila.

Essa relação com a sétima arte fez com que eu, dentro de minhas condições, claro, pudesse montar o maior número possível de material sobre a mesma. Meu acervo é relativamente expressivo. Antes, quando morava em Belém (PA) estava, vez por outra, no Centru (um centro cultural da vizinha capital), e, lá, dirigia-me até ao seu Cine Clube, onde assistia filmes produzidos em preto e branco. Coisas do Arco da Velha. Entre os quais, produções com Betty Davis, Elisabeth Taylor, Harva Gardner e Aldrey Herpbaner, uma das mulheres mais lindas de toda a história do cinema mundial.

Dito isso, voltando a “Bicho de Sete Cabeças”, quero ilustrar que, a exemplo do que ocorre nas demais regiões do país, o hospital psiquiátrico de Imperatriz, localizado ali na estrada de João Lisboa, também deve ter sua estrutura de funcionamento modificada. É preciso humanizar a casa e dotá-la de todos os recursos necessários para uma boa prestação de serviços.

Os governos municipal e estadual devem dispensar maior atenção ao local, pois lá estão, como sabemos, pessoas, seres humanos, que esperam por um tratamento digno e eficiente.