Adevaldo Fernandes
Reginaldo Jesus

Geovana Carvalho

“Comecei ainda criança pode-se dizer, com 14 anos, em São João dos Patos. Em 1977 fui pra Brasília e cheguei em Imperatriz em 1981”.
O alfaiate Adevaldo Fernandes trabalha há trinta anos no centro da cidade. Já trabalhou em várias alfaiatarias e hoje tem o próprio negócio. Adevaldo mantém a rotina diária com bom humor e trabalho duro. Tecidos cortados, duas máquinas de costura, uma vitrine – onde são guardadas as roupas que esperam por seus donos –, uma prateleira cheia de “cortes”, um balcão onde são talhadas as roupas, muita linha e espelho. Esse é o ambiente de trabalho que retrata uma profissão que está em vias de extinção.
Adevaldo Fernandes comenta que, nos últimos dez anos, nenhum aprendiz entrou em alfaiataria alguma da cidade, o que, segundo o experiente alfaiate, põe em risco a continuidade do ofício. “Mas essa situação não é só aqui em Imperatriz não, no Brasil todo é assim, ninguém mais quer aprender a profissão. As pessoas querem comprar roupa pronta, a indústria de roupa oferece preços acessíveis e também tem a questão da etiqueta, as pessoas valorizam muito”. Segundo Adevaldo, o ex-patrão, para quem trabalhava na capital federal, informou-lhe que as encomendas tornaram-se tão raras que ele resolveu mudar de ramo.
Em Imperatriz, houve um auge na confecção de roupas, na década de 1980, explica ele: “Na década de 80 passava muita gente para Serra Pelada e para outros garimpos, tudo girava em torno do garimpo. A alfaiataria Agulha de Ouro, onde eu trabalhava, tinha um movimento absurdo, vinha gente de toda a região só para fazer roupa lá, tinha gente que era de longe. Um cliente vinha da Serra [Pelada] e encostou para encomendar roupa. Ganhou muito dinheiro e queria chegar bem vestido em Recife, para onde ele estava voltando”.
Com trinta e seis anos de profissão, Adevaldo Fernandes constata: “Hoje a encomenda de roupa caiu 99%, o serviço mais procurado é reforma e ajuste”.
As saudades que sente do início da carreira em Imperatriz afloram lembranças: “Lá na Agulha de Ouro eram umas vinte pessoas... a gente tinha alegria de trabalhar, era divertido”. Daquela época, alguns amigos ainda mantêm contato com Adevaldo, um deles trabalha com ele, sempre que pode: “Trabalhava na Agulha de Ouro, mas passei dezenove anos fora da profissão”, diz Reginaldo Jesus. Após quase duas décadas sem exercer o ofício, Reginaldo diz que vem ajudar o amigo Adevaldo e, além de matar saudades da costura, aproveita para ganhar um dinheiro extra. Ele fala com carinho do trabalho: “Tem um lado pessoal. O cara gostar do teu trabalho, dizer que tá bem feito, tá bonito, e parabenizar pela profissão é muito gratificante”.
Adevaldo Fernandes emenda: “Lembro de uma vez que, trabalhando na Agulha de Outo, o chefe pegou uma encomenda para fazer a roupa da Fanfarra do Amaral Raposo e ele segurou e segurou... sei que fomos fazer essa roupa três dias antes do desfile de Sete de Setembro. Trabalhamos três dias e três noites, sem parar, para entregar. No dia do desfile, os alunos saíam daqui direto pra frente do Cine Marabá pra desfilar... eu fui pra casa e dormi do dia sete até o dia oito sem parar, o Reginaldo também, acho que ele dormiu uns três dias”.
Reginaldo também tem lembranças curiosas: “Eu tinha um cliente, o Davi Alves Silva, que ia pra minha casa para eu fazer as calças dele, e só fazia de noite. Eram três ou quatro calças que ele encomendava. E ele só ia embora quando eu terminava, esperava eu fazer as calças. Ele ficava lá com quatro seguranças, até terminar”.
Reginaldo fala de um inesperado encontro com outro cliente ilustre: “O Fiquene também fazia as encomendas comigo. Ele também não tinha tempo, era muito ocupado, aí eu fazia as roupas pra ele à noite também. Um dia, eu já tinha deixado de costurar. Fui trabalhar na Vale, era maquinista, e o Fiquene na época era governador. Ele foi visitar a cabine, me viu e se espantou: - Menino, tu faz o que aqui? Tu é alfaiate ou maquinista? Eu disse que era alfaiate e era maquinista naquele momento. Quando ele saiu, me abraçou e os colegas do trem diziam: - Oh nego esticado, abraçando o governador...”.