Avenida Frei Manoel Procópio nos dias de hoje

Hemerson Pinto

"Era tudo mata, o passarinho que tinha muito era jumento (risos)". Quando Frei Manoel Procópio do Coração de Maria desembarcou aqui, em 16 de julho de 1852, acompanhado de alguns seguidores e da imagem de Santa Teresa D'Ávila, não imaginou que 161 anos depois existiria uma avenida em sua homenagem. Também não sabia que a homenagem seria desconhecida por parte dos moradores. Muito menos, que o pequeno vilarejo cresceria e se transformaria na segunda maior cidade do estado do Maranhão.
Nascido e crescido aos arredores da antiga 'Rua do Fio', o aposentado Olímpio Herênio Bandeira, 87, recebeu O PROGRESSO para uma conversa rápida. Ele disse que não estava muito disposto para o bate papo. Entre uma risada e outra, seu Olímpio permaneceu deitado no sofá, na sala da casa de fachada simples. O terceiro endereço do pescador e ex-funcionário público da antiga Sucam guarda características das primeiras construções ao longo da avenida.
A frase com a qual iniciamos este texto saiu da boca do aposentado. "(...) Lembro muito bem disso, jumento tinha demais". Entre as brincadeiras preferidas da meninada naquela época estavam o jogo de castanhas no buraco, as petecas (bolas de gude) feitas de barro assado, e o jogo de pião. "Fora isso era muito trabalho e a vida corrida. Criei 13 filhos, todos nascidos em Imperatriz", lembra.
Seu Olímpio foi casado com dona Domingas Martins Bandeira (in memorian) e trabalhou por muitos anos na fábrica do pai, o senhor Nelson Bandeira. "Era uma fábrica de cachaça e rapadura, ficava ali na área aonde hoje é as terras do Jacó. Tudo era vendido por aqui mesmo. Meu serviço era tocar os bois na roda de engenho".
Depois das duras rotinas, a volta para a rua de algumas casas, que começava nas proximidades de onde hoje é a Praça da Meteorologia e findava pouco antes da Praça do Rotary. Interrogado se alguma vez pensou em deixar Imperatriz, Olímpio é rápido na resposta: "Nunca pensei nem em sair desta rua. Digo, só pro cemitério São João Batista (risos)".
Ele espera que a avenida seja completada com a continuidade do canteiro central, o que já foi prometido por administradores anteriores e não cumprido.
Após deixar a casa de seu Olímpio e caminhar alguns metros, basta atravessar o canteiro central da Avenida Frei Manoel Procópio, ainda chamada de Rua 15 de Novembro, para chegar à casa da professora aposentada Domingas Machado Batista (Domingas Paixão), 69 anos. Nascida no povoado Imbiral, às margens do rio Tocantins, veio definitivamente para 'a vila', como era chamada a cidade na época, em 1953, quando atingiu idade escolar.
"Primeiro o papai alugou a casa para colocar nossa irmã mais velha, Cledina", mas aos poucos as outras sete irmãs foram mudando para o mesmo endereço, onde bem antes funcionou a cadeia da vila. Hoje, parte do imóvel foi transformado em condomínio. Domingas, Cledina, Eva, Francisca, Constância, Maria de Nazaré, Maria Lúcia e Maria Regina participaram das festividades promovidas na 'Rua Grande', 'Rua do Fio' ou '15 de Novembro'.
"Nossos pais também não faziam falta por aqui. Vínhamos acompanhar os desfiles, festa de Santa Teresa e do Bom Jesus", sem falar dos vesperais, realizados em residências, tocados ao som de saxofones e sanfonas. Domingas Paixão também comenta que a Avenida Frei Manoel Procópio teve seus dias de 'Rua do Telégrafo'. "Tinha postes com os fios do telégrafo", informa.
A igreja matriz de Santa Teresa sempre foi a referência na Avenida Frei Manoel Procópio, segundo a fala da professora: "Tudo era em volta da igreja de Santa Teresa". Até o motor que gerou a energia pela primeira vez era situado nas proximidades. O gerador foi inaugurado em uma usina em 1954. De acordo com Domingas Paixão, dias depois do assassinato do ex-prefeito Urbano Rocha. "Era um motorzinho, a luz acendia 6h e apagava 10h da noite", conta.

Mudanças - Na conversa com a professora Domingas Paixão e as irmãs Francisca e Eva, a história das primeiras mudanças na 'Rua 15 de Novembro' continua sendo contada desde a iniciativa do ex-prefeito Pedro Guarda, com o projeto audacioso de construir uma galeria de pau a pique. Para isso precisou cortar algumas mangueiras na parte central da rua, para abrir buracos. A tentativa não deu certo. O canteiro central, de acordo com a professora, foi de responsabilidade, ainda em mangueiras, do ex-prefeito Raimundo Silva.
Quanto ao nome, 'Rua 15 de Novembro', a professora explica: "Não existe mais a 15 de Novembro, existe nas placas porque o poder público mantém". De rua, a '15 de Novembro' passou a ser Avenida Frei Manoel Procópio ainda no início da década de 2000, comenta Domingas. O projeto para mudança do nome em homenagem ao fundador da cidade partiu dos moradores e líderes religiosos, após abaixo assinado.
Votada e aprovada na Câmara de Vereadores, é possível dizer que a alteração 'ficou no papel'. Percorrendo a extensão da avenida, trecho em uma faixa, outro trecho em duas, o que confunde não é o trânsito, mas sim as placas que ainda dão nomes diferentes à principal rua do chamado 'setor velho' da cidade. Quem esteve na luta pela mudança de nome não tem dúvida: "Ela inteira é Avenida Frei Manoel Procópio", reafirma Domingas.
No consultório do oftalmologista Mário da Rocha Cortez, O PROGRESSO dá continuidade à história da Avenida Frei Manoel Procópio, com uma observação: os moradores estão realizando outro abaixo assinado. Agora, é para a construção de um canteiro central no trecho situado entre as ruas Gonçalves Dias e Santa Teresa. O médico revela que antigamente a rua já foi dividida neste local.
"Não haviam canteiros, eram apenas mangueiras, lembro que tinha um coqueiro. Creio que teve alguma influência de Belém (PA), pois nosso contato era maior com Belém do que com São Luís, pois nossa via preferencial era o [rio] Tocantins. Belém tinha muita mangueira plantada nas ruas e como as duas cidades tinham relações comerciais, acredito que acabou influenciando", diz Mário.
As lembranças do médico, primo do ex-prefeito Renato Cortez Moreira, assassinado em outubro de 1993, destacaram a ocupação da Avenida Frei Manoel Procópio por órgãos públicos naquela época. "Não havia asfalto, era muita areia. No inverno tinha vegetação antiga, como fedegoso. Tinha os Correios durante algum tempo, Coletorias estadual e federal. Já existia o Mercado Bom Jesus, que reunia produtores da região para vender farinha, arroz, carne de sol e outros produtos. Eles usavam [vasos] medidas que foram doadas pela princesa Imperatriz, de líquido e massas".
Alguns minutos antes, quando conversamos com a professora Domingas, ela aponta os locais aonde funcionava a primeira sede da Prefeitura, chamada de Intendência, a Escola Reunidas Estaduais e revelou que a casa onde mora foi a primeira cadeia da cidade, onde foi preso seu bisavô. Mário Cortez completa que a Rua Godofredo Viana já foi a 'Rua de Fora', que a Coronel Manoel Bandeira foi a 'Rua do Meio' e a Avenida Frei Manoel Procópio também foi chamada de 'Rua do Rio'.

Pedaços - Moradores antigos da Avenida Frei Manoel Procópio, como seu Olímpio, a professora Domingas Paixão e a família de Mário da Rocha Cortez, não escondem outra situação que incomoda, além da desvalorização do verdadeiro nome da via e da busca pela implantação do canteiro central no trecho entre as ruas Gonçalves Dias e Santa Teresa. Pedaços da história da avenida foram arrancados com a chegada do desenvolvimento, que anos depois de levar o calçamento em paralelepípedos à rua, substitui vários metros quadrados da história por camadas de asfalto.
"Os bloquetes, além de ser mão de obra local, são porosos, permitem a penetração de água, é mais fácil de recompor. Ecologicamente é mais correto", diz Mário Cortez, acrescentando que a substituição de blocos por asfalto, em trechos onde há necessidade de recuperação, é "descuido e relaxamento da administração. Não só dessa, mas de administrações anteriores. Um erro que está se repetindo", declara.
Pai e filho - Na Secretaria de Infraestrutura do Município de Imperatriz, apenas uma parede divide os gabinetes do secretário e subsecretário da pasta, respectivamente filho e pai. Roberto Alencar é quem responde pela secretaria desde a primeira gestão do prefeito Sebastião Madeira. O pai, Francisco das Chagas Alencar, foi secretário de Obras no governo Carlos Gomes de Amorim, entre 1977 e 1982, quando a avenida ganhou calçamento em blocos. O curioso é que a obra substituiu o asfalto colocado em um período de intervenção no município.
Sobre a implantação do canteiro na área pretendida pelos moradores, entre as ruas Gonçalves Dias e Santa Teresa, o secretário Roberto Alencar é firme: "Precisamos fazer um estudo técnico para saber se a extensão do canteiro daria para manter duas pistas de rolamentos com o mínimo de sete metros de largura. Já na frente (onde a população quer o canteiro) temos que fazer um estudo para ver se tem largura para isso. Não podemos fazer uma pista estreita. Como menos de sete metros fica a impossibilidade de passar um carro pelo outro", explica.
O responsável pela pasta afirma que a substituição de bloquetes por camada asfáltica será reparada em breve. "Estamos desenvolvendo um estudo para recompor toda aquela parte onde tem o asfalto. Vamos recompor o mesmo tipo de bloquetes (...). Vamos recuperar a Praça do Rotary e canteiros centrais ainda este ano", adiantou.
O atual subsecretário de Infraestrutura, Francisco das Chagas Alencar, lembra que o calçamento da rua levou cerca de cinco meses para ser concluído. "A rua já existia da maneira que ela é hoje. Era de asfalto. Como o asfalto estava desgastado, o prefeito fez um convênio com o Estado para fazer a pavimentação e na época foi escolhido o bloquete intertravado. Alguns secretários do governo desejavam que o canteiro fosse feito até o hospital (Unimed), mas foi feito um estudo e vimos que na Gonçalves Dias o canteiro já está bem estreito, as pistas já estão na faixa de cinco metros, o que não é admissível. Para prosseguir não foi viável fazer isso. Poderia ser separado por meio-fio", sugere.
Enquanto não se resolve sobre a continuidade do canteiro central e não é recomposto o bloquete intertravado, a professora Domingos deixa um recado: "A história da cidade está se acabando. Pegam pessoas que não são de Imperatriz para falar em certas horas, em certos jornais, até em livros tem histórias sobre Imperatriz que não são verdadeiras. A própria enciclopédia tem histórias que não são verdadeiras sobre Imperatriz", alerta.