* Roberto Wagner

Não sou assinante de VEJA. Compro os exemplares dessa revista diretamente nas bancas, isso quando o meu amigo Cleto Louza Cruz não me presenteia com a dele. Por descuido, acabei não comprando a edição 2.461 (20 de janeiro de 2016), aquela que trouxe o cantor David Bowie na capa. Para azar meu, Cleto extraviou a dele.  Resumindo a ópera, somente anteontem consegui, finalmente, um exemplar de tal bendita edição.
Após ler a entrevista de páginas amarelas (“Desaprenderam de pensar”), com o senador Cristovam Buarque, corri para ver, na edição seguinte, na seção “Leitor”, a repercussão das palavras do ilustre entrevistado. Embora a revista tenha dito que essa entrevista fora o assunto mais comentado entre todas as matérias da citada edição, foram divulgadas as opiniões de apenas três leitores; duas destacando a conduta política e o pensamento, de modo geral, do ex-reitor da UNB, outra, da leitora Maria Magali M. N. Barros (de Brasília/DF, que inclusive confessou ter sido eleitora do entrevistado até outro dia), em sentido diametralmente oposto. Num rápido apanhado estatístico, deu, portanto, 66,33% em favo do senador e 33,33% contra.
A minha decepção não poderia ter sido maior. Como enaltecer a postura de alguém que, após dizer coisas como “a universidade desconectou-se da realidade”, que esta se encontra em situação de quase ruína “pelo despreparo dos acadêmicos” (coisas essas, por sinal, de uma obviedade ululante, daí  o escancarado oportunismo dessas declarações), ufana-se em lembrar, como costumam fazer as pessoas que se levantam com um braço erguido e o indicador da respectiva mão apontando para cima, que foi ele “quem apresentou Hugo Chávez ao Lula”? Como enxergar honestidade intelectual em alguém que, por ter proporcionado tal infame e cretina apresentação (tanto para brasileiros como para venezuelanos), julga, pelo que deixa a entender, que deveria receber o reconhecimento e a gratidão do povo brasileiro? Como, entre três leitores de VEJA (supondo que a revista mostre, com as cartas publicadas, a média das opiniões dos que leram a matéria), só um teve a lucidez de ver quem é, de fato, o senador Cristovam Buarque?
Ponderei, a princípio, que, já tendo se sucedido ao aludido número três edições (2.462, 2.463 e 2.464), tal assunto estaria esgotado a essa altura, não se mostrando oportuno o reavivamento da questão. Mesmo assim, mesmo correndo o risco de ser interpretado como alguém que esteja requentando tema já exaurido (e infelizmente é certo que, em tempos de internet, o “esvaziamento” de matérias jornalísticas dá-se de maneira cada vez mais rápida), decidi que deveria trazer à reflexão das leitoras e dos leitores de O PROGRESSO o que, a respeito de si mesmo, pensa o senador Cristovam Buarque, guru, ainda hoje,  de expressiva parcela da comunidade acadêmica, inclusive daqui de Imperatriz, comunidade essa que ele, convém salientar, dedica, agora, solene desprezo, acusando-a, como mostra a entrevista em foco, de ‘corporativista’ e ‘despreparada’.
Para finalizar, com o meu mais absoluto endosso, trago as palavras da senhora Maria Magali M. N. Barros, a perspicaz leitora brasiliense de VEJA: “(...) cada vez mais me parece que suas declarações são de conteúdo oportunista. O senhor reclama da oposição, porém nunca a fez de forma clara e transparente. (...) E quanto a apresentar Lula a Chávez? Nunca lhe ocorreu que Chávez destruiu a Venezuela? E que de populismo o Lula sempre foi professor?”. É isso aí. Até a próxima.

Advogado*