Maria Judite Guajajara: futura estudante de Jornalismo

Desde que foi implantado em 2007 na Universidade Federal do Maranhão, o Sistema de Cotas para o ingresso ao ensino superior que visa proporcionar e assegurar a aplicação da justiça social às pessoas historicamente excluídas, com critérios étnico-raciais, tem apresentando um seguido crescimento no número de aprovados. É o caso de Ozeas Filho Guajajara, Laís Gomes Guajajara e Maria Judite Guajajara que, nesta semana, realizaram suas matrículas na UFMA, no campus de Imperatriz. Eles são indígenas e fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pelo sistema de cotas. Neste campus, por exemplo, desde 2007, apenas dois indígenas haviam sido aprovados para graduação, e agora foram três aprovados para os cursos de Pedagogia, Enfermagem e Jornalismo que aguardam o início das aulas.
Ozeas Guajajara, candidato aprovado no curso de Pedagogia, foi aluno do cursinho pré-vestibular específico para indígenas que a UFMA realizou em 2011, com o objetivo de preparar os candidatos para preencher as cotas para indígenas disponíveis na Universidade. A primeira etapa do curso aconteceu em agosto na Aldeia São José, no município de Montes Altos. A segunda etapa foi realizada uma semana antes do Enem, na própria Universidade, em Imperatriz.
Já Laís Guajajara foi aprovada para Enfermagem e mora na Aldeia Zitiua, no município de Arame, a 320 km de Imperatriz. O pai dela, Luís Carlos Guajajara, diz que está muito contente com a aprovação da filha. “Ela não fez cursinho, estudou apenas em casa com as apostilas de amigas”, explica Luís. A partir de agora Laís vai morar em Imperatriz, numa casa alugada; um desafio para ela e para a família. “Nós da família estamos apoiando e fazendo de tudo para mantê-la na universidade”, conclui Luís Carlos.
Por sua vez, Maria Judite Guajajara será aluna do curso de Jornalismo. Ela conta que, desde pequena, observa a situação do povo indígena da aldeia Lagoa Quieta, em Amarante, onde mora. “Somos um povo muito sofrido. Há muita discriminação e falta de oportunidade no trabalho e no estudo”, relata. Ela diz está nervosa, pois vai representar a aldeia. “Agora que serei uma jornalista, pretendo defender as causas indígenas que estão esquecidas pela sociedade e lutar pelo meu povo”, ressaltou.

Compromisso
Depois da assinatura da Pactuação Timbira com o Ministério da Educação (MEC), em São Luís, em novembro de 2011, a UFMA se tornou responsável por garantir a participação de representantes da Universidade nas reuniões da Comissão Gestora e do Território Etno Educacional Timbira e assegurar políticas de acesso e permanência dos povos indígenas na Universidade, conforme as necessidades. A professora de Pedagogia da UFMA, Maria Glória Freitas, diz que a Universidade irá continuar com atividades para promover uma melhor educação ao povo indígena.
Uma delas será o acompanhamento dos alunos indígenas aprovados. Outra é a continuação do cursinho pré-vestibular. “Neste ano vamos enviar um projeto ao MEC para que nosso cursinho seja melhorado quanto à carga horária e ao ensino”, explica a professora Glória. A UFMA também disponibilizou terminais de acesso à internet, com monitores capacitados para o atendimento às pessoas com dificuldades em realizar suas inscrições no SiSU. Em Imperatriz, estes terminais foram utilizados principalmente por candidatos indígenas, que aproveitaram para fazer sua inscrição e concorrer a uma vaga pelo SiSU, e deu certo.
Para o diretor do Departamento de Organização Acadêmica (Deoac) da UFMA, professor Manoel Barros, o Sistema de Seleção Unificada (SiSU), pela qual estes candidatos foram aprovados, é inclusivo, e acredita que o aumento de indígenas aprovados seja o reflexo da concepção, sob a qual o próprio Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem sido realizado, um exame que capilariza, pluraliza e aumenta o número de chances do ingresso à universidade. A exemplo, o diretor do Deoac aponta o aumento do número de lugares de aplicação das provas do Enem que saltou de uma dezena para quase 90 pontos de aplicação em todo o Estado do Maranhão. “É como se a possibilidade de entrar na universidade chegasse a cada porta da Sociedade”, finalizou Manoel Barros. (Núcleo Ascom – UFMA Imperatriz)