Por DIÓGENES Dantas Filho
O britânico RONALD BIGGS ficou conhecido como o “ladrão do século passado” por ter liderado o assalto ao trem pagador, em 1963, entre GLASCOW e LONDRES. O roubo rendeu o equivalente a 4,2 milhões de dólares e deu margem a livros e filmes.
Em nosso País, os criminosos estão desfrutando de liberdade cada vez maior e praticando delitos audaciosos, inspirados em BIGGS e aproveitando as nossas vulnerabilidades.
Em 04 de abril de 2016, a empresa de transporte de valores Prosegur foi roubada em 50 milhões de reais, em SANTOS, com cenas cinematográficas de violência, poder de fogo e profissionalismo dos agentes do crime.
A Prosegur é a terceira empresa privada de segurança no mundo, com 150 mil funcionários, presente em 17 países, sendo líder na América Latina.
O projeto detalhado do assalto foi o fator preponderante para o sucesso da execução, podendo-se até inferir a contratação de “planejadores profissionais”.
Obtiveram preciosos dados das instalações e de suas limitações, fornecidos, talvez, por funcionário aliciado ou infiltrado ou dispensado.
Em qualquer empresa, é de fundamental importância o cuidado na seleção do pessoal desde a contratação até seu acompanhamento após a desmobilização.
Chama a atenção o perfil de criminosos experimentados no manuseio de explosivos, na preparação das cargas, no manejo do armamento, no uso de capacetes com lanternas para suprir a deficiência de luminosidade e no tipo de veículos utilizados.
Realizaram ação em força, valendo-se da surpresa e da intimidação, ocupando pontos externos que dificultaram a aproximação da força policial.
Na fuga, houve perseguição deixando um popular e dois policiais militares mortos. As operações de repressão não podem prescindir de equipe móvel de socorro urgente no acompanhamento das ações policiais.
Os detalhes do roubo divulgados na mídia podem servir de ensinamento ao desencadeamento de ações semelhantes.
Estes assaltos audaciosos, meticulosamente visualizados, têm crescido e compensado os marginais com elevados lucros e risco diminuto, apesar do investimento tecnológico das empresas em sua segurança.
O fato comprova, mais uma vez, como os delinquentes se beneficiam do contrabando, do tráfico de drogas e de armas, cujo incremento está intimamente relacionado ao vertiginoso crescimento da criminalidade.
Por determinação legal, a sociedade está desarmada mas os bandidos cada vez mais aparelhados e os órgãos de repressão bem deficitários neste particular.
As empresas de proteção privada que recebem autorização do Estado para atuar na vigilância, principalmente, não têm condições de enfrentar marginais de tanta periculosidade.
Há imperiosa necessidade deste “status quo” ser modificado. Para tanto, deverão ser tomadas as devidas providências já que bandidos desta estirpe não têm condições de serem ressocializados:
- revisão do Código Penal;
- adoção de penas mais radicais;
- construção de presídios de segurança máxima, no interior do País, afastados de cidades;
- suspensão de regalias para criminosos desta natureza;
- rigorosa fiscalização das fronteiras;
- eficaz combate ao tráfico de drogas e de armas;
- rigoroso controle na fabricação, trânsito, manuseio e rastreamento da munição e armamento;
- reequipamento adequado das forças policiais;
- efetivos compatíveis com o aumento da população e da criminalidade;
- melhor formação do pessoal, particularmente a de operações especiais;
- emprego da Guarda Municipal no reforço aos órgãos policiais, principalmente na adoção de medidas preventivas;
- melhoria e uso dos meios tecnológicos de segurança;
- maior estímulo e melhor remuneração ao “disque-denúncia”;
- vontade política para derrotar o “inimigo”.
A adoção da moeda virtual não daria margem a assaltos como os aqui relatados e há muitos outros crimes a exemplo de explosões de caixas eletrônicos. Além de ser um óbice à corrupção, seria de grande valia para a segurança pública.
O Estado em tudo se intromete, mas descuida no seu dever de preservar a vida dos homens de bem, a liberdade de ir-e-vir, a propriedade dos cidadãos e a sua segurança.
DIÓGENES Dantas Filho é Coronel R1 do Exército Brasileiro, ex-Comandante do 50º Batalhão de Infantaria de Selva (50º BIS) e Doutor em Planejamento e Estudos Militares.
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