Wlisses P. Ferraz de Sousa
Alguém já disse que após perdermos o pai ou a mãe, ou ambos, qualquer outra perda que tenhamos de suportar já não causará tanta dor. Quando perdi, há vintes anos (que se completarão, exatamente, no dia 07 de maio próximo), o meu saudoso pai Vanderly Ferraz, julguei que nenhuma outra perda que viesse a ter nessa vida provocaria em mim aquilo que Jorge Luís Borges chamou de “esvaziamento da alma”. Na última quinta-feira, 26 de março de 2015, senti em minha alma esse imenso e perturbador vazio de que falava o mestre argentino. Nesse fatídico dia, perdi um dos grandes amigos que conquistei na vida, com quem tive o intraduzível prazer de conviver como se verdadeiros irmãos de sangue fôssemos, tamanhos os laços de afetividade recíproca que nos ligavam.
Acompanhei a sua trajetória na Magistratura praticamente desde que ele nela ingressou; com ele aprendi, e nisso resumo toda a minha admiração e reverência por sua pessoa, que nada nesse mundo tem o poder de suplantar a sinceridade, a humildade e a honradez. “O mais poderoso dos homens, meu caro Wlisses” - um dia ele me disse isso, com essas mesmas palavras - “não será mais do que um tolo se não for sincero, humilde e honrado”.
Sua morte prematura, é claro, como tantos, aliás, já disseram, abrirá uma lacuna impreenchível no Judiciário maranhense. Ouso acrescentar, com a certeza de que não estou exagerando, que sob a venda que cobre os olhos da deusa Thêmis, que simboliza a Justiça, correm lágrimas de tristeza e saudade, ela que por certo tantas e tantas vezes há de ter sorrido com o perene bom humor do doutor Armindo, cujas fotografias, quase que sem exceção, mostram-no com um sorriso no rosto, ainda que discreto, fotografias essas que terminam sendo provas incontestes, por si só, de que ele vivia em permanente comunhão com a felicidade, em paz com a vida, em perfeita harmonia com aqueles com quem convivia.
Foi-se, enfim, esse meu grande e para sempre inesquecível amigo; ficou em seu lugar o extraordinário exemplo de alegria, de felicidade, de honestidade, de competência, de compreensão que ele nos deixa. Despeço-me fazendo meus, amigo Armindo, nessa singela homenagem que ora lhe presto, os versos que Manoel Bandeira ofereceu a Mário de Andrade, por ocasião de sua morte:
“Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunham:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.
Sei bem que ela virá
Pela força persuasiva do tempo.
Mas agora não sinto a sua falta.
É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.
Você não morreu: ausentou-se.
A vida é uma só.
A sua continua.
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto a sua falta.”
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