Mastologista José Guará: “O câncer de mama é a doença maligna mais comum na população feminina mundial”

Raimundo Primeiro

O presidente da Associação Brasileira de Mastologia no Maranhão, José Guará, esteve na IV Jornada Maranhense de Mastologia e III Jornada de Mastologia do Conselho Regional de Medicina do Maranhão (CRM-MA). Conversou com a reportagem de O PROGRESSO, aproveitando a oportunidade para informar sobre os números de casos de câncer de mama no Brasil e no mundo que o diagnóstico precoce é a única estratégia de prevenção.
A seguir, confira a íntegra da entrevista com o mastologista José Guará.

O PROGRESSO – Quantas mulheres recebem diagnóstico de câncer de mama por ano?

JOSÉ GUARÁ – O câncer de mama é a doença maligna mais comum na população feminina mundial. Estima-se que cerca de 1.2 milhões de mulheres recebam este diagnóstico todos os anos no mundo. O Brasil tem a expectativa de incidência anual de pouco mais de 65 mil casos e o Estado do Maranhão, cerca de 650.
Os principais fatores de risco são a idade, história familiar, menarca precoce ou menopausa tardia, sobrepeso e obesidade, ingesta de bebida alcoólica e inatividade física. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), se todas as mulheres na pós-menopausa mantivessem hábitos de vida saudáveis, como manutenção do peso ideal, realização regular de atividade física e a não ingestão de álcool, teríamos uma redução de 22% dos casos de câncer de mama no Brasil!

O PROGRESSO – O diagnóstico precoce é a única estratégia de prevenção?

JOSÉ GUARÁ – A principal estratégia de prevenção, além dos aspectos citados anteriormente, é o diagnóstico precoce. Atualmente, a Sociedade Brasileira de Mastologia, baseada em evidências científicas sólidas, recomenda a realização da mamografia anualmente em todas as mulheres acima de 40 anos. Importante frisar que, inevitavelmente, o câncer de mama se desenvolverá em algumas mulheres e, como é impossível predizer quem terá a doença, o exame de rastreamento é indicado a todas.
Quanto ao autoexame, esta é uma estratégia para que a mulher tenha consciência do seu corpo e do autocuidado, mas não deve ser a única estratégia de monitoramento da mama. Ou seja, a mulher que diz “não sinto nada, então não farei mamografia” está cometendo um grande descuido com sua saúde.

O PROGRESSO – Como deve ser o tratamento do câncer de mama

JOSÉ GUARÁ – Uma vez diagnosticado, o câncer de mama tem múltiplas modalidades de tratamento, como boa eficácia e as taxas de cura se relacionam com o estágio em que a doença é descoberta. Em resumo, o tripé do tratamento envolve a cirurgia, o tratamento sistêmico (quimioterapia, hormonioterapia, terapia biológica alvo etc.) e a radioterapia. Em relação à cirurgia, o avanço de técnicas tem proporcionado melhores resultados de segurança oncológica e cosméticos.
A cirurgia oncoplástica e as reconstruções pós mastectomia são uma realidade no sistema único de saúde. Neste sentido, o Maranhão, devido à capacitação e ao esforço dos profissionais da mastologia, é o estado brasileiro que, proporcionalmente, realiza mais reparações imediatas das mamas após a cirurgia de retirada do tumor.

O PROGRESSO – O que falar sobre os índices de mortalidade?

JOSÉ GUARÁ – Apesar dos avanços, a mortalidade pelo câncer de mama ainda é um desafio. É a segunda causa de morte por neoplasia na população feminina. Para mudar este cenário, além do acesso ao tratamento oportuno e adequado, o diagnóstico precoce é uma estratégia importante. A doença em estágio inicial tratada oferece cura em 90-95% das vezes. Outro fator importante a ser observado em mulheres que já tiveram câncer de mama é a manutenção dos cuidados com estilo de vida saudável.

O PROGRESSO – Em relação a cirurgia redutora de risco?

JOSÉ GUARÁ – Quanto a cirurgia redutora de risco, ela está indicada em mulheres que portam mutação genética deletéria, ou seja, elas têm um risco mais elevado para desenvolvimento do câncer de mama e ovário comparado com a população em geral. É um procedimento, todavia, que não é isento de complicações, mexe com a autoimagem e feminilidade. Portanto, deve ser uma decisão bem consciente e aconselhada por especialistas.