Casado e pai de um casal de filhos, com 29 e 26 anos, seu Francisco de Assis Lima, de 54 anos, é exemplo de persistência quando o assunto é estudar. Como aluno mais velho da Educação de Jovens e Adultos da Escola Municipal Afonso Pena, no povoado Km 1.700, o lavrador concluiu o ensino fundamental no projeto há 8 anos, mas em fevereiro resolveu retornar para terminar o ensino médio.
O homem de poucas palavras disse ter consciência sobre a importância dos estudos, mas teve de decidir entre estudar e trabalhar e acabou ficando com a segunda opção. A falta de recursos para pagar a Caixa Escolar, uma taxa que era cobrada para manutenção das escolas públicas na década de 1970, foi outro fator que pesou para a desistência dele da sala de aula.
Com a chegada das turmas na modalidade EJA ao povoado Km 1.700, onde ele mora desde 1976, quatro anos após chegar com seus pais ao Maranhão procedentes de Parambu (CE), ele finalmente realizou o sonho de concluir o ensino fundamental. Com o retorno do programa ao povoado, ele resolveu se matricular este ano para concluir o ensino médio.
O homem, que fala tranquilo e com pausas, tem sonhos mais altos, mas é cauteloso. Perguntado se teria planos para fazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio, Enem, após o curso, foi evasivo. "Olha, vai depender da situação em que eu tiver na época porque, apesar de tudo, eu vivo hoje e o amanhã, mas com calma", disse.
O lavrador, que cultiva plantações de arroz, feijão, milho e macaxeira, fez questão de dizer que voltou a estudar por uma iniciativa pessoal, a qual conta com apoio de sua família. No entanto, lembrou que ir à sala de aula é um desafio diário.
"O povo diz que a Educação faz uma nação, então vou melhorar, tentar ver o que vem para frente até o final. É difícil para danar porque tem que manter despesas de casa e gente passa o dia no sol e à noite está com o corpo todo doído, mas não sabe o que vai cair na aula amanhã e, para não atrasar, vai para a aula. Mas dá cansaço", revelou.
Dentre as dificuldades que ele também disse enfrentar estão as tarefas que vêm se acumulando. "Estamos há dois meses e até agora não consegui adaptar direito o trabalho da sobrevivência com o trabalho da escola".
Superação
Apesar das dificuldades, seu Francisco não se deixa abater, e ainda, tira onda da situação. "Quando falei que ia voltar a estudar teve gente que disse que eu já estou velho e eu disse que, de qualquer maneira, velho vou ficar e resolvi voltar" disse, para em seguida arrematar: "O pessoal diz que papagaio velho não aprende a falar, imita. Então, é o que eu estou fazendo aqui", concluiu, em tom de brincadeira.
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