Senador Roberto Rocha
O Brasil sediou, na semana que passou, o Oitavo Fórum Mundial da Água, o maior evento global sobre o tema, organizado pelo Conselho Mundial da Água (ONU), que reuniu chefes de Estado e de Governo, ministros, empresas privadas, organizações não governamentais, academia, instituições internacionais e sociedade civil. O assunto é oportuno e converge com minhas preocupações, expressas tão logo assumi o mandato de senador, quando dei início a uma verdadeira pregação para chamar atenção sobre o grave problema da degradação das águas do Maranhão.
Com o apoio de internautas em todo o Maranhão, montei um relatório fotográfico sobre a situação dos nossos corpos d'água e iniciei um circuito de seminários sobre a revitalização dos rios maranhenses e suas nascentes, em todas as regiões, reunindo dezenas de especialistas para aproximar a sociedade do saber técnico sobre a matéria.
Ciência e consciência poderia ser o lema dessa preocupação, ciente de que o tamanho do desafio supera as capacidades financeiras e técnicas do Estado e dos municípios.
Posso dizer, desde que iniciei essa cruzada, que o quadro que eu supunha crônico era na verdade mais grave, bem pior do que imaginava. Não só a água está se tornando escassa e imprópria, mas temos dado sinais de completa irracionalidade em seu uso.
Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento o Maranhão ocupa o segundo lugar no pódio dos estados que mais desperdiçam água, com impressionantes 62,2% de perda na distribuição da água coletada.
Vamos atentar para esses números: é como se, de cada 100 litros de água coletada, 62 fossem para o ralo no processo de distribuição. Sabe qual é a média nacional? Em torno de 32%. E onde essa montanha de água é perdida? Em ligações clandestinas, em vazamentos, em equipamentos obsoletos, em fraudes no sistema.
Para situar melhor o tamanho desse desperdício, no Japão ele não chega a 5% e nos Estados Unidos é de 13% em média. Ou seja, somos vítimas da abundância. Temos 20% da água doce do planeta e agimos como se ela fosse infinita. A situação se agrava pela expansão desordenada das áreas urbanas, pela má gestão dos resíduos sólidos, o lançamento de efluentes nos corpos hídricos e a falta de políticas públicas adequadas para sua preservação e produção.
Enquanto no semiárido nordestino a falta d'água é efeito do clima, no Maranhão a dificuldade de abastecimento de água tem a ver com má gestão e falta de planejamento.
Infelizmente esse é o quadro em que vivemos. Onde está a política estadual, de longo prazo, para o enfrentamento do problema? Onde estão os diagnósticos, os planos, os cenários para o futuro?
O Governo do Estado mais parece um encanador que um gestor, dedicado apenas a consertar as tubulações que se rompem, ao invés de estar prioritariamente empenhado em promover ações para enfrentar o agravamento e o colapso de todo o sistema. Até quando nossa riqueza hídrica será apenas a vitrine de nossa incúria e descaso?
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