*Roberto Wagner

Um detalhe tem chamado especial atenção no caso das conversas telefônicas entre o ex-juiz federal Sergio Moro e alguns procuradores da República com atuação na força-tarefa da Lava Jato, cujo conteúdo foi invadido por hackers ainda não identificados, e divulgado pelo site de notícias The Intercept Brasil: o fato de os envolvidos estarem se limitando, basicamente, a ressaltar a gravidade da violação de tais diálogos, como se, por acaso, fosse desnecessário ou desimportante rebater a autenticidade e fidedignidade dessas conversas.
Mal comparando, é como se, flagrado trocando mensagens telefônicas com o(a) amante, o cônjuge traidor, em vez de desmentir a traição ou pedir desculpas pelo que fez ao cônjuge traído, optasse por condenar a invasão de seu celular, relegando à vala da irrelevância o adultério cometido. Trocando o cenário e os atores, é como se para o ex-juiz e atual (por enquanto) ministro da Justiça, bem como para os procuradores com os quais restou apanhado em conversas que, pelas entrelinhas, sugerem condutas ilícitas, o adultério moral por eles praticado em desfavor da nação fosse coisa aceitável.
Se a violação perpetrada pelos invasores, como acertadamente afirmam os envolvidos, é coisa grave, e de fato é, não menos grave é, também, o que tais conversas deixam escapar: a pavorosa possibilidade de réus, no âmbito da Lava Jato, estarem sendo condenados, inclusive a penas longas, sem provas verdadeiramente irrefutáveis. Dizer, como alguns têm feito, caso, por exemplo, dos ministro do STF Luís Roberto Barroso e Luiz Edson Fachin, de que, se autênticos, esses diálogos não significariam grande coisa, e que, portanto, não teriam o condão de desnaturar as penas de quem já foi condenado, até porque algumas dessas condenações já foram confirmadas pelo STJ, é argumento que, por si só, não se sustenta.
Como bem sabem os advogados cujos cabelos, se não caíram, ficaram brancos ao longo do exercício de tão honrado e sacrificado ofício, uma sentença criminal condenatória bem redigida, ainda que tenha por fundamento pilares fantasiosos, tem chances razoáveis de ser confirmada em instância superior, notadamente se tem a simpatia da opinião pública.
Resumindo, o que tem sido alegado pelos envolvidos só tem aumentado a inquietante sensação de que essa história, pelas rasas explicações dadas até aqui, está muito mal contada. Ontem reli Machado de Assis, mais especificamente o excelente livro de contos "Histórias sem Data", originalmente publicado em 1884; em Conto Alexandrino, tem esse achado: "A verdade é imortal, o homem é um breve momento...".
Até a próxima. 

  *Roberto Wagner é advogado