Raimundo Primeiro

Imperatriz amanheceu triste, na sexta-feira, 3 de março. A morte do principal pesquisador da sua história surpreendeu muitas pessoas. Internado havia três semanas, as notícias sobre a evolução do quadro de saúde de Adalberto Franklin sinalizava, portanto, que o combatente narrador dos fatos aqui acontecidos venceria mais uma “batalha”. Infelizmente, ocorreu o contrário.
Lamentavelmente, ele não conseguiu resistir mais e, assim, foi ajudar a escrever os acontecimentos registrados noutro plano. Na vida celeste, com certeza, terá um importante espaço a ocupar, deixando sempre sua marca indelével.
Qualidades, teve. E muitas! Disso não se pode rechaçar. Aqui entre nós, o Adalberto, ou Franklin, como carinhosamente passei a chamá-lo desde a época de O PROGRESSO, pois assim era conhecido o dedicado jornalista entre os seus liderados “progressistas”, ou seja, funcionários do jornal, ficava horas, madrugadas, até, trabalhando na confecção do matutino, sempre buscando uma edição melhor do que a outra, com ampla cobertura dos fatos locais e regionais.
Em O PROGRESSO, Adalberto inovou, trazendo para as páginas do jornal os comentários de renomados colunistas, inclusive do jornalista Joelmir Beting, ex-TV Bandeirantes, falando sobre o panorama econômico nacional.
Quando comecei no jornalismo imperatrizense, retornando de Belém do Pará, conheci e retomei grandes amizades. Uma delas, para minha alegria, claro, foi com o Adalberto. Ou Franklin, reforçando, como era chamado em O PROGRESSO, quando iniciei minhas atividades no primeiro diário de Imperatriz, minha cidade natal. Um momento indescritível.
Franklin pra lá, Franklin pra cá, assim era o movimento na Redação do nosso O PROGRESSO, principalmente na parte da tarde, quando o trabalho estava no auge, no maior pique, desenvolvendo o fechamento da edição que sairia às ruas logo nas primeiras horas do dia seguinte, informando sobre o cotidiano da grande cidade e dos municípios próximos.
O barulho das máquinas datilográficas predominava, despertando a atenção de quem passava nas proximidades, sobretudo na calçada do jornal, localizado, na época, na rua Coronel Manoel Bandeira (Centro), não muito distante da entidade da qual também orgulhosamente fazia parte – a Academia Imperatrizense de Letras (AIL), nas imediações da Praça da Cultura.
Quando o Adalberto foi editor do jornal, participou de momentos marcantes em prol do desenvolvimento regional, atuando em Imperatriz e outros municípios, entre os quais Açailândia, a 72 quilômetros. Lá, foi secretário de Comunicação Social da Prefeitura Municipal. Pouco tempos depois, chamou-me, indo, pessoalmente, até a casa de minha mãe, a baiana dona Dina, fazer o convite para que eu pudesse integrar a equipe de jornalistas da Ascom da vizinha cidade, na segunda gestão do então prefeito Ildemar Gonçalves. Aceitei.
Adalberto e/ou Franklin, lembram Coló Filho (hoje editor-chefe), Willian Marinho (repórter de política), Dema de Oliveira (editorias de esporte e polícia); Mestre Cabral (impressor), Capijuba, Jorge Braga e Ana Duarte (diagramadores); Dió (motorista), Jasmina (secretária) e Jonas Ribeiro (colunista social); Illya Nathasje (diretor comercial), os Sergios (pai e filho), superintendentes, não media esforços para fazer com que a Redação não parasse e acompanhasse as transformações que estavam acontecendo no âmbito do jornalismo, principalmente tecnológicas.
Nem mesmo durante o tempo em que esteve no comando da Redação de O PROGRESSO, na condição de editor-chefe, deixava de estudar assuntos inerentes à cidade e região tocantina. Imperatriz, ao mesmo tempo, era fonte de pesquisas do Adalberto Franklin, que, na condição de historiador, da qual jamais arredava pé, fez com que muitos acontecimentos aqui registrados, desde os primórdios, se tornassem públicos por meio de seus escritos.
Adalberto Franklin é autor de artigos e livros que falam (em miúdos) sobre o passado da cidade descoberta pelo carmelita baiano frei Manoel Procópio do Coração de Maria, em 16 de julho de 1852, como capelão da “Missão do Alto do Tocantins”, contratado pelo governo do Pará.
Adalberto Franklin, para quem ainda não sabe, nasceu em Uruçuí, no Piauí, mas, pelo trabalho, além de outras ações, principalmente no campo pessoal, é imperatrizense. A cidade e sua gente muita coisa descobriu por intermédio de sua labuta, do seu “mergulhar” nos estudos para trazer à baila feitos que continuam encobertos, no recôndito do tempo.
Outro inédito mérito: o Adalberto fez parte, ainda, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), levando cada vez mais longe, positivamente, o nome de Imperatriz.
As mensagens de carinho manifestadas por familiares, amigos, confrades da Academia Imperatrizense de Letras, pesquisadores, do público, ratificam o quão sua trajetória, nos diversos campos de atuação, foi importante para o município e a região. Um feito que merece ser visto sob nova ótica. Ou melhor: nunca ser esquecido, cada vez mais reconhecido, valorizado. Assim, sua luta não terá sido em vão.
Nos últimos anos, recordo do Adalberto como fonte de informação quando necessitava de dados para ilustrar alguma matéria que estava escrevendo. E, também, das entrevistas exclusivas que fiz com ele sobre Imperatriz para o Programa “Repórter nos Bairros”, veiculado diariamente pela TV Anajás, Canal 16 (Rede Vida). Uma delas, com forte repercussão, foi sobre a fundação de Imperatriz, no dia do aniversário da cidade, também falando sobre os aspectos religiosos.