Jaime Fernandez Ferreiro com a esposa, Dª Rocilda ("in memoriam"), e o irmão Luís. - Fotos: Divulgação

Houve um tempo, na infância e imaginação, que se ia à Espanha "comprar um chapéu azul e branco da cor daquele céu".

Hoje, na realidade, da Espanha se trazem autores como Cervantes, personagens como Sancho Pança, comidas como a "paella"... e pessoas que nem Jaime Fernandez Ferreiro.
*JAIME FERNANDEZ FERREIRO, o "Espanhol", foi o implantador da agricultura mecanizada em Imperatriz e pioneiro no agronegócio no município. Ele nasceu em 1922, em Villalba, província de Lugo, na região da Galiza (ou Galícia), na Espanha. Neste 31 de maio de 2020 completou 98 anos, 68 deles vividos no Brasil e, destes, 62 em Imperatriz.
Ele é o terceiro dos nove filhos do casal DOMINGOS FERNANDEZ LAMA e DOLORES FERREIRO SAN JUJO. Aprendeu com o pai a atividade da agricultura, o principal setor econômico da região da Galiza e um dos maiores da Espanha. No Exército espanhol, onde serviu durante três anos, Jaime tornou-se motorista. Também foi músico, tendo tocado clarinete em quarteto.
Aos 30 anos, após avaliar a situação econômica e política de seu país e fazer consultas a um livro de Geografia, e considerando a proximidade linguística do espanhol com o português, Jaime Fernandez decidiu atravessar o oceano e emigrar para o Brasil.
Na grande cidade espanhola de Vigo, entrou no navio argentino "Santa Fé" e, depois de 11 dias de viagem, desembarcou em 7 de setembro de 1951 no porto do Rio de Janeiro, então a capital federal brasileira. Ele não era o único europeu de língua latina a aportar no Brasil: as tais questões políticas e econômicas de sua terra há muitos e muitos anos vinham trazendo milhares de espanhóis, sobretudo galegos, para o solo brasileiro, em especial para os estados de São Paulo, Rio, Minas Gerais e Bahia.
No Rio, Jaime Fernandez foi lavador de carros à noite e motorista do embaixador da Síria durante o dia. Com orgulho, faz questão de dizer que sempre mereceu a confiança dos patrões e nunca faltou ao serviço. Deixou esses empregos quando, com o dinheiro economizado, comprou um pequeno caminhão e começou a dirigir pelo país transportando cargas.
Sua filosofia de vida é: "Insistir, não desistir".
Decidiu fixar-se em Imperatriz em 1956: em uma viagem de Recife para Barra do Corda, seu caminhão quebrou em Montes Altos e ele, o motorista, teve de vir até Imperatriz - a pé... Foi assim que começou a conhecer palmo a palmo (ou passo a passo) a região que ele escolheria para ficar para sempre.
Foram muitos anos de trabalho duro e constante - e, algumas vezes, com dificuldades. Lembra ele: " - Tive prejuízos, mas eles nunca abateram minha moral".
Como pioneiro da economia de Imperatriz, antes de dedicar-se exclusivamente à agropecuária, Jaime Fernandez Ferreiro:
* foi pioneiro, em 1960, na agricultura mecanizada, colhendo na época até 600 sacas de arroz por dia;
* implantou em 1961 o primeiro serviço de transporte coletivo por meio de ônibus, adquiridos por ele no Rio de Janeiro; fazia linha do Entroncamento ao antigo Hospital São Vicente Férrer, na atual Praça da Meteorologia, e também para o povoado Trecho Seco;
* instalou uma das primeiras usinas de beneficiamento de arroz - a Usina San Julián, nome dado em homenagem ao padroeiro de Villalba, sua cidade natal na Espanha;
* foi o primeiro produtor de mel e mamona, com exportação para o mercado interno brasileiro;
* na pecuária, foi pioneiro na aquisição e cria de vacas paridas, compradas nos estados de Goiás e Minas Gerais.
Mais do que os bens que adquiriu em Imperatriz e região, tem orgulho das amizades que fez e conservou em sua vida quase centenária. Entre os amigos, lembra com respeito e saudade daqueles que já se foram e que também prestaram relevantes serviços a Imperatriz: ADOLFO CAL GIL, CARLOS GOMES DE AMORIM, DORGIVAL PINHEIRO DE SOUSA, JAIME CAL GIL, JONAS RIBEIRO, JOSÉ DE RIBAMAR CUNHA & Dª DIDI (compadres), MANOEL RIBEIRO, MIGUEL DURÁN CARBALLAL (da Ducauto), OLINDO CHAVES DOS SANTOS, OTACÍLIO LEITE, RAIMUNDO DE MORAES (MUNDICO) BARROS, RAIMUNDO ESTILADOR (compadre) e FREI EPIFÂNIO DA BADIA (que oficiou seu casamento, na Igreja de São Francisco).
Depois de muito trabalhar, pesado e continuamente, Jaime Fernandez formou um patrimônio imobiliário rural de três mil hectares, tão grande que bairros inteiros da Imperatriz de hoje localizam-se em áreas que antes lhe pertenciam. Em 1963, na Espanha, em uma das viagens para visitar familiares e amigos, muitos se surpreendiam com a quantidade de terras que ele tinha. Até seu pai duvidava que o filho fosse proprietário de tanta terra, a ponto de dizer-lhe: " -- Outra coisa, não, Jaime, mas mentir no Brasil você aprendeu".
Tempos depois trouxe um dos irmãos, que, fascinado pelo Brasil e por Imperatriz, declarou: " - Aqui é que é o lugar!"
Igual sentimento há muito mais tempo Jaime Fernandez vinha manifestando pelo lugar onde já viveu a maior parte de sua vida, formou patrimônio, casou-se com Dª ROCILDA (falecida) e constituiu grande família de seis filhos (GRACIETE, MARCELINO, JUAREZ, JAIME, JAMES e JULLIANO), os quais, até maio de 2015, já lhe haviam presenteado com dezesseis netos e quatro bisnetos.
Hoje, Seu Jaime está com mais idade... e com mais saudades -- saudades de Dª ROCILDA, a esposa, que, pioneira, mudou-se para o outro lado da vida, para preparar a chegada do marido.
Se as vistas já rareiam, a visão interior de Seu Jaime permanece. Com um pouco de rima e sotaque espanhol, só pede "'salud' [saúde], sorte e uma feliz morte".
Quando em viagem, pelo Brasil ou no Exterior, alguém procura saber a razão de um europeu ter se fixado aqui, Jaime Fernandez Ferreiro revela com gosto seu amor e apego ao Brasil e à região onde vive. E responde:
" - Meu lugar é lá, em Imperatriz, no Maranhão."


EDMILSON SANCHES