Em maio de 1968, para além da greve geral que irrompeu na França a partir dos protestos no Quartier Latin organizados pelos estudantes e trabalhadores contra o sistema educacional e a repressão – que se irradiaram mundo adentro, numa CPI da Câmara dos Deputados sobre a reestruturação do Ensino Superior brasileiro, em plena ditadura civil-militar, o intelectual Anísio Teixeira no seu depoimento professa: “A educação não é só um bem para o indivíduo, mas uma necessidade para a sociedade.”

Sete meses depois seria decretado o AI5, a face mais cruel e a melhor tradução do penúltimo golpe no estado brasileiro. Como escreveu dia desses numa rede social um companheiro: “Os grandes pensadores botaram a cara no sol”.
Naquela afirmação, o mestre proporcionava-nos mais uma aula, duas de fato: o zeitgeist e a função social da Universidade na organização do registro da realidade social e a produção e divulgação da cultura nacional.
De fato, após 51 anos vivemos no Brasil uma cena quase similar. Reformas supressoras de direitos, deveres e funções sociais, desmantelamento do sistema educacional,...
De fato, também, os movimentos de proação, as ideias inovadoras sempre têm seus epicentros. As necessidades sociais, a temperança nessa conserva cultural chamada sociedade, devem se coefetivadas pela Universidade.
E quando uma Universidade é nova, recém-criada e formulada a partir de uma política pública balizada pelo Desenvolvimento com Inclusão e Justiça Social em um estado ainda eivado de assimetrias sociais como o Maranhão, sua ação estratégica é entusiasmante e motivadora.
Assim é a compreensão dos que lutaram, conquistaram e constroem a Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão – UEMASUL.
No próximo dia 10 de abril, faremos 100 dias de existência. Planejamento, trabalho, aprendizado, organização, avaliação, resolução, desafios, correção, reordenamento, dialética, embates, mediação, inserção, visibilidade, políticas de desenvolvimento têm constituído as tarefas dos gestores, professores, servidores técnico-administrativos e discentes no ensino, pesquisa e extensão.
Somos a única Universidade Regional do Estado do Maranhão. A mais nova Universidade do Brasil. A compreensão desse universo regional suscita a promoção de ações afirmativas para realinhar aquelas assimetrias sociais. Óbvio que só temos 100 dias. 100 dias dos primeiros 1.000 anos!
Requalificar arquitetonicamente os espaços de convívio universitário, construir e organizar os espaços de organização administrativa para os mais de dois mil alunos e quase cento e oitenta profissionais é a parte visível deste processo.
Organizar as bases epistemológicas do Projeto Pedagógico Institucional – PPI e do Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI 2017-2022, para ampla discussão e construção do consenso na comunidade acadêmica. Formular e organizar todos os demais documentos normativos, no mesmo momento em que se operacionaliza o cotidiano da administração pública para atender satisfatoriamente as demandas internas e externas são tarefas que têm obtido resultado por meio da metodologia situacional, coletiva e participativa de ação.
Alunos participando da bienal da UNE em Fortaleza, indo divulgar resultados de suas pesquisas/atividades em eventos em Teresina, Recife, difundindo e a UEMASUL, são indicadores iniciais otimistas do novo empoderamento discente.
A nomeação e posse de novos professores/pesquisadores ampliando o corpo docente e o ingresso aproximado de quatrocentos e cinquenta discentes compactuados com o inédito e expressivo lançamento de quase 200 bolsas de pesquisa, estágios, monitorias, permanência estudantil configuram uma nova relação para o caminho da função social da UEMASUL.
O início do curso de mestrado em Agricultura e Ambiente numa cooperação com nossa coirmã UEMA corresponde ao planejamento de consolidação dos cursos de graduação já existentes ao tempo em que implementamos o terceiro ciclo de formação continuada com a criação de cursos de pós-graduação stricto sensu.
O investimento de 11,3 milhões de Reais na construção do nosso terceiro campus, na Rodovia BR-010, com recursos alocados pelo Governo do Estado via financiamento do BNDES, com ordem de serviço a ser expedida nas próximas semanas pelo governador Flávio Dino e nossa Reitora profª. Elizabeth Fernandes materializa o compromisso Estado-Universidade-Sociedade com o desenvolvimento regional.
Por sua vez, o protagonismo e ativismo definido pela UEMASUL na sua área de atuação territorial nos programas estatais Rede Ciência Maranhão coordenado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação – SECTI e Mais IDH, criando, formulando e disponibilizando serviços, processos e produtos, constituem a expressão e desafio da lição de outro mestre da educação, professor Darcy Ribeiro. A Universidade necessária deve estar irmanada com a planificação do estado, democratizando a educação e a cultura para superar o atraso, promovendo como vetor resultante a aceleração evolutiva e a atualização histórica da nossa região.
Não é pouco. Poucos são os 100 primeiros dias. A história exercerá sua análise e julgamento. Estamos no começo. Os saberes tradicionais nos ensinam que a Arte é o que preenche o vazio e o Conhecimento é um porto...de saída.
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Expedito Barroso, Biólogo, professor da Rede Estadual de Educação e da UEMASUL. Vice-Reitor Pro tempore.