Meus amigos. Públio Siro também conhecido como Publilio Sirio, era nativo na Síria e foi feito escravo e enviado para a Itália, mas graças ao seu talento, ganhou o favor de seu senhor, que o libertou e o educou. Ficou conhecido por ter cunhado varias frases e dentre elas pincei uma que bem retrata o nosso momento atual: “O medo da morte é mais cruel do que a própria morte”.

Quem não está apavorado com essa pandemia que a nós todos causa medo? E quem não procura se preservar para vencer o vírus? E à proporção que vai chegando mais próximo de nossas famílias é que o medo aumenta. E quando perdemos um ente querido se pudermos trazê-lo de volta seremos capaz de qualquer coisa. Vejamos.

Há muito tempo, no Tibete, uma mulher viu seu filho, ainda bebê, adoecer e morrer em seus braços, sem que ela nada pudesse fazer. Desesperada, saiu pelas ruas implorando que alguém a ajudasse a encontrar um remédio que pudesse curar a morte do filho. Como ninguém podia ajudá-la, a mulher procurou um mestre budista, colocou o corpo da criança a seus pés e falou sobre a profunda tristeza que a estava abatendo. O mestre, então, respondeu que havia, sim, uma solução para a sua dor. Ela deveria voltar à cidade e trazer para ele uma semente de mostarda nascida em uma casa onde nunca tivesse ocorrido uma perda. A mulher partiu exultante, em busca da semente. Foi de casa em casa. Sempre ouvindo as mesmas respostas. “Muita gente já morreu nessa casa”; “Desculpe, já houve morte em nossa família”; “Aqui nós já perdemos um bebê também.” Depois de vencer a cidade inteira sem conseguir a semente de mostarda pedida pelo mestre, a mulher compreendeu a lição.

Nós todos vamos morrer. No entanto, a ideia da finitude nos enche de terror. Por quê? Será que precisa ser assim? Dá para sofrer menos?O sofrimento nos cega a ponto de imaginarmos que somos a única pessoa que sofre nas mãos da morte.Mas não. Todos sofremos.

A morte é um fato natural que deixa profunda marca na nossa alma, pois não nos preparamos para recebê-la.

Com a morte tendo sido transferida para a impessoalidade dos hospitais, perdemos a noção da importância dos rituais funerários, que conferem um sentido ao sofrimento e à morte. Agora o sofrimento é porque sequer podemos velar nossos defuntos. Como é doido ver um pai, mãe, irmão, filho ser depositado dentro de um saco colocado no caixão que é lacrado sem podermos dar um beijo em sua fronte ou em suas mãos.A expulsão da morte da nossa intimidade, privando aquele que está prestes a morrer da nossa ternura e da nossa solidariedade nos momentos finais, é uma metáfora da negação da finitude que operamos em nossas próprias vidas. “Os rituais de morte estão presentes em todas as sociedades do planeta. Servem para a compreensão ‘social’ do fenômeno: ajudam a digerir o impacto provocado pela perda do outro e funcionam como fator de agregação daquela sociedade”, diz o antropólogo Guillermo Ruben, da Unicamp.

“Os rituais seculares foram esvaziados de sentimentos e significado”, escreveu o sociólogo alemão Nobert Elias, na arguta análise da experiência de morte nos dias de hoje, presente em A Solidão dos Moribundos.

O temor do “contágio” pela morte explica a solidão e a frieza das unidades de terapia intensiva, onde, muitas vezes, os doentes terminais morrem sem a possibilidade de dizer uma última palavra aos que amam e sem ninguém que lhe ofereça conforto espiritual.

Resta-nos o consolo de em nossas lembranças ficar gravado que nosso ente querido cumpriu sua missão com dignidade e pedir a Deus que o aquinhoei oferecendo um lugar entre os justos. Até a próxima.