Meus amigos. Daqui a 4 dias será 24 de dezembro, véspera do nascimento de Jesus quando as famílias se reúnem em suas casas para celebrar o grande acontecimento da cristandade, quero relembrar três episódios ocorridos no Largo de São Tiago, local onde passei a maior parte da minha infância e adolescência e junto a meus pais e amigos diletos festejávamos a chegada do Messias, e recebíamos de “Papai Noel” nossos presentes. Mas, ao lado da alegria das crianças que recebiam seus brinquedos outras só nos olhavam sem entender a razão das diferenças entre nós e elas.
Um pedido para “Sapinho”. Lembro-me, bem quando garoto no Largo de São Tiago em uma dessas noites “Sapinho” garoto pobre morador da Fonte do Bispo aproximou-se e me perguntou: “por que tantas crianças bem vestidas, cheirosas, a brincar alegremente nas ruas, com seus carrinhos e bicicletas, enquanto eu tenho que vender balas, descalço e com minhas roupas surradas”? “Que bonito! Como eu queria brincar”. Em minha ingenuidade disse-lhe: Foi Papai Noel quem nos deu. Segurando o seu tabuleiro de confeitos indagou-me: “Papai Noel... Será que ele dá presentes aos pobres”? Claro que os dá é só fazer uma carta a ele com seu pedido, e na noite de Natal deixe seus sapatos embaixo de sua rede e quando acordar os presentes lá estarão. Ora, vai ser difícil, pois não sei escrever, não durmo em rede e sim em uma esteira e não tenho sapatos e sim uma sandália de dedos.
Pensei: no próximo Natal, eu vou fazer um pedido a ele. Que trouxesse um presente para “Sapinho”. E terminei a carta endereçada ao “Bom Velhinho” com os versos do Carlos Cunha: “Papai Noel, por favor, não minta para as crianças! Traga mensagem de amor e Natal só de esperanças”.
O cofrinho de Zuleika. Na casa da minha mãe havia uma lavadeira, Dona Maria, que tinha três filhos. Dentre eles o mais conhecido era o Zé Pequeno contumaz arruaceiro, beberrão inveterado e inimigo do trabalho. Quase todos os dias vivia a atormentar a sua mãe com pedido de dinheiro para ir beber. Mas, nem sempre a velha senhora dispunha da “grana” solicitada. Com ela também morava sua neta a vivaz e insinuante Zuleika, de cinco anos filha do Zé Pequeno que havia sido abandonada pela mãe. Na véspera de Natal mais uma vez o incorrigível Zé Pequeno atentava sua mãe com pedido de dinheiro e sem ter nada para dispor permaneceu calada. A tudo Zuleika assistia e aproximando-se da avó indaga: Vovó porque estás negando o pedido de papai? Em seguida trouxe seu cofrinho onde guardava moedas e dirigindo-se ao pai lhe diz: “papai guardava estas moedas para comprar uma boneca, mas por ser hoje, véspera de Natal e de se dar presentes pode levá-las”. Tal relato foi feito por Dona Maria para minha mãe em minha presença. Meu pai, então, tirando da carteira uma cédula de cruzeiro (moeda da época) deu-a para a velha senhora comprar uma boneca para Zuleika.
O peru de D. Alzira. Para não relatarmos somente os episódios tristes, um hilariante. Dona Alzira era nossa vizinha da Rua das Barraquinhas. Beto seu neto queria na ceia do Natal que fosse servido peru ao invés do frango de todos os anos. Com muito esforço comprou um para satisfazer o desejo do neto. Mesa posta, peru na mesa falta luz na casa. Ao ser restabelecida o peru havia desaparecido. Procura daqui, procura dali eis que Loly, a cadela poodle de Beto, estava se refestelando com o galináceo no fundo da cozinha. Assim nem frango nem peru. Feliz Natal para todos.
Até a próxima.
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