Meus amigos. Quando Pedro Leonel Pinto de Carvalho completou setenta anos dediquei-lhe um artigo e disse de início, quero homenagear não o jurista, o professor, o advogado brilhante, o articulista político de ontem dos jornais e da TV. Não. Não quero. Vou falar com muita honra sobre o amigo. E, quanto é difícil definir quem é amigo. Mas, tentarei, pois assim o tenho.

Mas amigos também morrem. Amigo é quem te dá um pedacinho do chão, quando é de terra firme que tu precisas, ou um pedacinho do céu, se é o sonho que te faz falta. Mas Pedro faleceu. Não mais pode nos dar um pedacinho do chão, mas deve estar a aguardar-nos reservando um pedacinho do céu.

E o nosso poeta maior disse sobre o amigo. “Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar”.

Pedro Leonel nasceu em Viana no dia 06 de março de 1937, filho de um advogado e de uma professora. Ambos tão dignos como ele. Disse-me certa vez, quando menino ainda, sua maior alegria não era receber um brinquedo quando o pai regressava da Capital, mas quando lhe trazia um livro. Que belo exemplo este que me legou. E foi através dos livros que se fez respeitado.

Quando falamos adeus a um amigo, parte de nós se vai com ele. “O tempo passa e a saudade fica. Fontes de lágrimas renascem...

A ti amigo faço-as minhas as palavras do poeta português Daniel Arruda quando previa a morte se aproximar. “Quem me faria acreditar que a meninice e a juventude me fugissem! Quem me faria acreditar que a velhice chegaria! Ninguém o faria. Mas hoje me soam as benditas palavras dos antigos: “Este mundo não é nosso e a vida são dois dias.” Tomou assento à janela e viu as flores do jardim da sua vida terrena despetalando-se, lentamente, enquanto perdiam a expressividade das suas cores. As pétalas caídas, levadas pelo vento, plainavam alegres até se perderem no horizonte e, em busca do infinito, cantavam: “Rainha cheia de brilhos,/ Mãe deste teu filho amigo,/Que me livra dos sarilhos,/Da desgraça e do perigo,/Depois de eu criar meus filhos/ Estou pronto a ir contigo!”

Quando da última vez que te visitei no leito hospitalar e nem uma palavra me dirigistes vi em teus olhos que tu sentias que a vida se congelava que a tua alma iria mergulhar no hiato que se fazia entre tua matéria e teu corpo.

“À pressa, pegou o comboio que o levaria em sua longa e derradeira viagem. Seguiu sem se despedir, sem tempo para um último abraço, sem dizer adeus. Estava lá, no horário marcado”!

Pedro Leonel Pinto de Carvalho sempre soubestes imprimir um tom de dignidade onde se distingue o humor, o sarcasmo, a crítica, o conselho, a ponderação, a ousadia e a coragem. Levastes a saudade da tua última aldeia, mas teu derradeiro olhar foi para a tua Ilha querida de São Luís antes de partir para os braços de Deus, teu pai muito amado. Perpetuaste-te na descendência de teus filhos, teus netos, teus bisnetos e no amor de mulher amada Marilene Carvalho. Paz a tua alma.  Até logo, até breve, até sempre.