Parece que é somente mais um dia em que eu não tenho notícias da Vó Zeca. Os anos foram passando e a distância incomum aumentando, mesmo contra todas as razões que existiam para isto não acontecer. Mais uma vez, a face certeira do fim abate a minha família, sem o sorriso sorrateiro do adeus. Mais uma vez, a morte alcança aquela que, talvez, tenha sido o maior espelho vivo de amor e solidariedade que eu já tenha conhecido. Vó Zeca. 
No dia 01 de dezembro de 2015, aos 89 anos, Vó Zeca, chamada assim carinhosamente pelos mais novos da família Cortez Moreira, partiu para o encontro de Deus, um encontro em que ela caminhava a passos lentos, nos seus últimos dez anos de vida. Longe da vida corrida, dos dias truculentos que nos acometem, Vó Zeca ganhava cada vez mais espaço em nossa memória, mesmo que ainda ali, de forma inerte, respirando o mesmo ar que todos nós. Uma vida que não merecia ter em seus últimos anos dias que não mereçam ser lembrados. Um pedaço da história de Imperatriz jazia sem partir e a cidade correndo a passos largos, sem saber que uma de suas filhas mais ilustres estava aos poucos nos deixando da vida, mesmo que já fazendo parte da história.
Maria José Sampaio Moreira é a 1ª filha do ex-prefeito e percussor de Imperatriz, Simplício Moreira. Mas não somente o sangue lhe faz a menção honrosa que vos escrevo. Zequinha Moreira, assim chamada carinhosamente por todos, foi professora e escritora, tendo lançado em vida, aos 71 anos, em 1997, o livro documentado e histórico “Simplício Moreira, Percussor do Desenvolvimento de Imperatriz”, onde relata fatos históricos da nossa família e da vida política e humanitária de meu bisavô. Foi professora em escola, mas também dos irmãos. Cuidou de todos como se todos tivessem nascido de seu ventre, pois não deixou filhos de sangue, mas de alma, de amor, sentimentos acima de qualquer genética. Uma testemunha viva do crescimento de Imperatriz, uma inteligência rara, gramaticalmente correta e coesa verbalmente, rígida nos momentos certos, amorosa em todos os momentos. Merecíamos mais trabalhos literários de Zequinha Moreira. Merecíamos mais, muito mais. Mas contam as histórias de nossa família, religiosa em todos os aspectos, que Zequinha sempre pedia para Deus força e sabedoria para terminar o livro do seu pai, o qual pesquisou e trabalhou por longos anos. Após o lançamento do livro, aos poucos foi perdendo o ímpeto, a força e a coragem, até chegar a um ponto irreversível. Assim como o nosso amor por você, Vó Zeca, sacramentado em nossos corações de forma irreversível. Nascida no aniversário de Imperatriz, em 16 de julho de 1926, entrou na Igreja Santa Tereza pela 1ª vez aos 03 meses de vida no colo da minha bisavó Olívia, fato este documentado na igreja. Mal sabia ali, no seio da família, que ali seria uma de suas casas favoritas, pela forma fervorosa como guiava a sua vida e dos demais que lhe cercavam. Assim, sendo parte rica de nossa cidade, Zequinha Moreira ganhou prêmios da Academia Imperatrizense de Letras e do Grupo Literário de Imperatriz. Mas a simbologia dos prêmios não superava a alegria de reavivar para todos a memória do pai Simplício. Como eu aqui agora faço, Vó Zeca, num misto de alegria e tristeza. Alegria por falar novamente da senhora e tristeza, por apenas exaltá-la após sua partida definitiva. O seu legado de fé, amor, caridade e amizade será seguido por nós, pelos nossos filhos e pela própria Vontade Divina. Aqui, neste canto de jornal, relato que ao lhe ver no seu local de repouso eterno, observando ao seu lado descansando meus bisavós Simplício e Olívia Moreira, eu ganhei forças para continuar olhando para frente, para poder, na graça de Deus, um dia olhar para trás e ver que fui tão bom e grandioso quanto vocês. Despeço-me sem dar adeus, entoando na escrita a música que a senhora cantava com muita entusiasmo, nos grandes momentos de nossa família:
“Glória, Glória Aleluia, Glória, Glória Aleluia, Glória, Glória Aleluia, louvemos ao Senhor... Jesus Cristo é a alegria, Jesus Cristo é o Senhor, da vitória sobre a morte, deu a todos o penhor, venceremos a tristeza, venceremos o temor, louvemos ao Senhor!”
Descanse em paz, Vó Zequinha! Nós continuaremos a zelar pelo teu nome como sempre zelou por nós. Parecia que era somente mais um dia sem notícias suas, mas não. Nossos dias serão mais ricos, lembrando tua história.