Depois de 15 dias de viagem, cheguei em Imperatriz e a primeira coisa que me veio à cabeça foi João Paulo II, nosso saudoso e falecido Papa. Pisei na minha terra depois de descer aquelas escadas tremendo pelo cheiro da ansiedade da chegada. Olhei para o meu chão e tive vontade de beijá-lo, como beijo minha noiva. Provadamente, o gosto seria totalmente diferente.
O melhor de uma viagem distante é saber que existe um lugar, um cantinho que você sabe que está te esperando. "Estamos indo, de volta pra casa...". São palavras que ilustram uma frase forte. E você vem passeando, observando a sua cidade do alto (eu não olho, tenho claustrofobiavisionáriadejanela), constatando que ali os braços estarão sempre abertos para a sua volta. O cheiro da sua cidade é diferente. Nossos pés pisam pedaços de um chão que nunca saem da sola, mesmo você visitando outros locais, andando em ruas e sinais desconhecidos. Nossos pés carregam nossa cidade, e não porque estamos em cima dela. Mas porque brotamos da nossa terra, nascemos dela. Somos raízes que se estendem por nossos passos, guiados pela imaginação dos olhos, viajando até onde nosso bolso permite.
A primeira coisa que fiz após chegar em casa foi abraçar minha mãe. Com a devida brincadeira, é a mala que nós mais carregamos e a que mais amamos. Lá, guardamos nossa segurança materna. Sonhos de criança, que para ela nunca cresceram. E lágrimas de saudade, que rolam mesmo que mãe e filho fiquem dois dias apenas sem se ver. Cheguei e já senti o clima de 2013. 13, se é o número ou símbolo do azar, não que eu diga que seja coincidência com um certo partido, mas que em termos de ano o azar só tem a característica do verbo que o diz ser. Este ano, sinto que seremos diferentes. O chão que pisei ao voltar clamava por mais sonhos, mais realizações. O meu chão de Imperatriz pedia passos largos, ideias novas, sentimentos velhos, mas renovados. Em termos de sentimentos velhos são os que renovam a alma. O que nos lavam ao ver os fogos da virada ou ao olhar no relógio e ver exatamente 00:01. Diga se o seu coração não bate mais forte na esperança de tudo começar de novo.
Imperatriz clama por um ano melhor. De assassinato, que matem baratas! De assalto, que sofram as geladeiras! De latrocínio, deixem apenas os impostos altos e o sangue dos nossos bolsos! De sequestro, LEVEM SEM RESGATE TODAS AS MAZELAS DE IMPERATRIZ!!!! O verbo levar precisa de sujeito. E se o sujeito não estiver preso, nós nos encarregaremos de fazer este pedido sujo.
Daqui, quando viajo, passo a mão na terra. Quando bate a saudade, saúdo as mãos, passo os dedos pelo rosto. Brinco comigo mesmo como se estivesse desenhada nas mãos toda a história da minha terra. Mãos sujas com o cotidiano que a vida impõe, mas limpas pela terra que as veste.
É como disse uma vez João Paulo II: "O homem é essencialmente um ser social; com maior razão, pode-se dizer que é familiar". E minha razão é total em minha essência. Familiar como voltar pra casa, irracional como deixar o vento socar meu rosto na alegria fidelíssima que o mesmo transmite ao voltar. Ser socialmente social é parte integrante do piso que andamos. Particularmente falando de forma pública, a esta razão referida, só entendemos quando entramos em casa, tomamos banho e deitamos. É o nosso voo seguro, sonhar. E o melhor jeito de ser antissocial racional.
Pois sempre e por todo o sempre, a melhor viagem é voltar pra casa. Seja bem-vindo, 2013.
Phelippe Duarte - cronista e poeta
Edição Nº 14609
Viagem inesquecível: voltar pra casa
Phelippe Duarte
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