Eu me sentia bloqueado para escrever. Não sei o que se passava comigo, até o momento que a barragem de Brumadinho rompeu.  Rompeu não só na cidade, mas invadiu minha cabeça e o meu coração como se inundasse minhas dúvidas e meus anseios: “não posso parar nunca”, eu pensei. E enquanto eu pensava como eu poderia voltar a escrever, algumas situações novas, foram mostrando que o ano de 2019, começa com tudo, mas tudo, ao contrário.

Brumadinho realmente é o resultado das inconsequências sobre a incessante busca a qualquer custo o lucro e dos dividendos. Talvez o caso mais famoso do comodismo brasileiro “ isso não dá em nada, nunca vai cair”. Até cair. Até se mostrar e escancarar o quanto existem pessoas que não se importam com o país e muito menos, com outras pessoas. É como se tivéssemos uma arma puxada para nossa cabeça, numa roleta russa infernal. Não sabemos o próximo passo desses caras. Não sabemos o grau de insanidade que beira a mente maldosa deles. Brumadinho é uma avalanche de mortes que provavelmente, vire estatísticas assim como Mariana, outro assassinato da empresa que diz cuidar dos interesses do nosso meio ambiente.  Estatística não matemática, mas impune a tudo. Tipo um torcedor de futebol de torcida organizada, que mata outro na frente da tv e na próxima semana, está no estádio torcendo. Somente no Brasil acontecem essas coisas. Aqui não tem terremoto, mas tem certas peculiaridades, que às vezes, nos faz querer uma tremidinha por aqui, ao invés de tanta tragédia.

Menos de uma semana praticamente de Brumadinho, 13 garotos são pegos de surpresa enquanto dormiam no alojamento do Flamengo. 10 morreram dormindo. Sonhando até, que jogavam pelo seu time no Maracanã, decidindo partidas, recebendo grandes salários, comprando casa para as mães. Uma central de ar pegou fogo e levou todos os meninos para um fim precoce de suas carreiras. Se o Flamengo faz craque em casa, agora faz anjos. Mas de quem é a culpa? Falam de licença para alojamento que não era alojamento e sim, conteiners improvisados, outros dizem que a Prefeitura do Rio de Janeiro é complacente, alguns dizem que o Flamengo tinha licença e depois não tinha mais, que o Corpo de Bombeiros vetou as licenças cabíveis, enfim. A verdade, é que a impunidade, reside nessas dúvidas, nesses questionamentos. E nós, estamos carbonizados e embaixo da lama, e apenas percebemos nossa situação, quando o sentimento de impunidade nos invade, e não podemos fazer muita coisa, a não ser lamentar barbáries como esta.

De repente o mundo do brasileiro vira de cabeça para baixo. E o que realmente importa? As famílias acordarão amanhã sem nenhum motivo para seguir em frente. Os responsáveis pelo seu coração enlutado, levantarão no outro dia protegidos pela leal e desproporcional força da covardia e do poder de podridão que os envolve. Em cima disso tudo, da junção desse descaso que torna-se morte, os garotos serão parte de Brumadinho e Mariana, sem nenhum esforço. Lama e fogo, sem nenhum esforço, virão escudos dos assassinos que vestem terno e gravata.  

Para pensar: Vale tudo para não ser Doce? É para ser exatamente: Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer? Guardada as devidas proporções de cada tragédia, me solidarizo com o Flamengo e com as famílias dos garotos, assim como todo o povo soterrado em Brumandinho. Aos sobreviventes, não sei como seguirão suas vidas, mas Deus com certeza tem um plano maior para eles. O Brasil não está de cabeça para baixo. São as pessoas que comandam estas situações, que tem a cabeça de merda.