Segunda-feira última. Dia nublado e o Sol com uma vergonha danada de aparecer. Pela primeira vez, eu escutei o coração do meu filho (a). Com exatamente dois meses e sete dias. Uma sensação assustadoramente sensacional. Um tipo de adrenalina injetável aos olhos, um tremor sadio, que toma conta do corpo. Um banho de lágrimas no coração.
Carregando essa emoção durante a semana, deparo-me com a notícia de que, no Uruguai, o poder executivo promulgará lei que permitirá o aborto durante as primeiras 12 semanas de VIDA de uma gestação. Isto, a mãe passando por um punhado de exames e outros pré-requisitos psicológicos para “conceber” o assassinato. Escutei o coração do meu filho com apenas 8 semanas e sete dias. E se já era contra o aborto, agora mesmo que aborto sanções como estas do Uruguai. A vida já se inicia no primeiro contato com o útero. Criança não precisa fecundar com nome “aqui jaz”. Aqui no Brasil, a lei é permitida em casos de estupro, quando há risco de vida para a mãe ou quando o feto for diagnosticado como anencefálico. Questão delicadíssima. Analisamos as três situações.
Estupro: a mais delicada das situações, consolida-se como a forma mais obsoleta de ter relações sexuais com alguém. E de ter um filho com alguém. Uma feto, com batidas de coração e em plena desenvoltura, tudo isso obtido através de uma violência sexual, merece morrer? Uma mãe precisa criar uma criança sem pai e que lhe trará a pior lembrança da sua vida? Vou partir do princípio cristão de que não somos Deus. Mas temos o maior poder que Deus no deu: o livre arbítrio. Dentro deste entendimento, Ele nos deu a liberdade de escolha, uma das maiores armas que possuímos, mas que não é e nem pode ser vista como um tambor de 38 pronto para disparar para si. Existem suicídios que não são contra quem os comete. Mas quem carrega dentro de si uma vida que se veio por métodos carnais bárbaros, acredito que de uma forma psicológica, as coisas podem ter um final feliz. Uma vida merece pagar o preço de uma covardia. Do ponto de vista racional, que se mate o malfeitor. Uma vida doentia, que merece o castigo de ser covarde.
Risco de vida para a mãe: qual o momento certo para diagnosticar o limiar mais próximo de vida e morte? Um ser humano descobre que tem câncer em fase terminal; seis meses, no máximo, de vida. É preferível que morra logo ao saber da doença? Então, se uma gestante está em risco de vida por estar grávida, infelizmente o único Senhor da Vida, que é Deus, prescreveu esse caminho. É ter fé, chorar e sorrir, até que a vida os separe. Não busca de entendimento e, sim, compreensão.
Anencefalia atestada por dois médicos: não me chamem de piegas, mas todo coração merece olhar para o céu, respirar o ar que acreditou um dia ter. Essa é a questão mais simples. Deixem nascer. A vida se encarregará do resto, o tempo será a situação mais plausível. Ou se decidirem ao contrário, vamos sair assassinando a sangue frio todos os aleijados, pessoas em coma e os doentes mentais. São vidas do mesmo jeito ou esqueletos fantasiados de pele humana?
Um situação que pode ocorrer na mudança da lei do aborto no Brasil, além desta que citei no último parágrafo, é a que dá sinal verde para a vontade da gestante de decidir sobre a vida do filho, tendo em vista que a mesma não tem ou teria capacidade de arcar com a maternidade. É a mais ridícula das situações. Isto virou o que agora? Controle de taxa de natalidade? Se aprovada, que toquem fogo nos lares de adoção. Para que gastar dinheiro com criança órfã se a lei quer matá-la logo? A outra situação seria inseminação artificial sem o consentimento da mulher. Praticamente um estupro por injeção. Será que existiria alguém que sairia por aí aplicando injeção com esperma pelas ruas? Mas como o dever te toda lei é precaver e proteger, digamos que não é falta de assunto para colocar em código penal, mas pode ser usada algum dia. A questão do estupro é a que mais me intriga, mas deixa situações a serem analisadas e conversadas. Mas depois que escutei o coração do meu filho batendo, minha opinião é totalmente diferente. Eu já sou pai antes de meu filho me ver, antes de eu tocá-lo. Ele existe antes de ver o mundo em que existirá. Sei que o amor e a decepção dependem da situação, não são os melhores consolos do mundo. Como tenho a certeza de que a morte também não é a melhor solução no Uruguai ou em qualquer lugar aonde exista vida recém-criada.
Deus guie nossos caminhos e dê força e coragem para homens e mulheres que passam por problemas deste tipo. E que esta questão do aborto não vire uma guerra sem armas entre ciência, fé e o jurídico.

        Phelippe Duarte - cronista e poeta