“Subo nesta tribuna pela primeira vez e última vez. Não por morte. Porque estou abandonando a vida pública”.

Após 07 anos de mandato, Tiririca subiu na tribuna e proferiu estas palavras. Ele abandonou os palhaços da Câmara.

Muito abalado, Tiririca disse que está muito decepcionado com a política brasileira e que nunca falará nada do que viu e do que viveu dentro dos bastidores da política brasileira. Deputado mais votado do país em 2010, com mais de 1 milhão de votos, Tiririca experimentou diversos sentimentos desde que, por uma oportunidade do partido, filiou-se e decidiu seguir a vida pública. Descobriu então, após eleito, onde fica o verdadeiro picadeiro do Brasil. Onde ficam os malabaristas, que se esquivam e manipulam denúncias como querem. Viu onde os mágicos conseguem dar nó em pingo d'água. Observou muitos palhaços (sem querer ofender a sua profissão de formação, caro Tiririca) serem afastados, condenados ou presos. Tiririca conheceu o verdadeiro circo da sua vida, e nele, era um novato sem chance nenhuma de brilho. Sua contribuição na política brasileira é praticamente zero. Foi apenas um fantoche, um arrasta voto para partido político. Mas, em toda sua essência e caráter, não se deixou corromper, dissuadir ou nunca aparentou ser dissimulado, como tantos outros da Câmara Federal. Um dos únicos parlamentares que comparecia assiduamente nos pleitos, sempre via colegas fazerem discursos para ninguém. Como este seu primeiro discurso, feito para alguns colegas políticos, e para várias cadeiras vazias.

Mas, Tiririca, eu não o defendo como político, mas como cidadão e ser humano que é. Um homem eleito pelo povo como voto de protesto, que ao ver, como funciona o sistema, não deixou-se levar pelo sistema. Em sua fala na tribuna, disse: “Nós ganhamos muito bem, R$ 23 mil livres, precisamos pensar mais no povo”. Ele não deu detalhes, mas em nosso imaginário já corrompido de que todos são bandidos, deu pra visualizar o que ele quis dizer. Que, para a maioria, esse valor não basta. E que desvio de dinheiro público também é desvio de conduta, de caráter, de hombridade. Tiririca disse, ainda, que sempre trabalhou e que muitos dos seus colegas não trabalham. Ele constatou um fato que nós todos sabemos, mas que não vemos. Nossas opiniões são processos pensantes do que é noticiado pelos jornais. As imagens que assistimos são produtos do que querem que nós vejamos. Os assuntos que nos são empurrados todos os dias têm cheiro de peixe podre. A verdade só é dita quando um palhaço sobe em uma tribuna, com o sorriso escondido de decepção, e diz que vai deixar um lugar que, talvez, nunca deveria ter entrado. Tiririca contribuiu para o Brasil mais como artista do que como funcionário do povo. Mas as duas funções se confundem quando denominadas assim. O artista Tiririca, funcionário do povo que gosta de sorrir, que gosta de andar de cabeça erguida sem dever nada para ninguém. Assim sai o homem público Francisco Everardo Oliveira Silva, da Câmara dos Deputados. Sem ser corrupto, olhando para frente, mas saindo pelas portas do fundo do coração do povo, que em certo momento, acreditou que com ele, realmente, pior que estava, não ficaria. Ele tinha a chance de sacudir aquilo ali. Mas neste circo político do qual entrou, não há vaga para homens que não entram no sistema. O picadeiro político fica com os palhaços de sempre e perde um homem de bem. Porém meus aplausos, em pé, são para a honestidade dele, ao pendurar a gravata do terno e recolocar a gravata borboleta guardada no armário.

Tiririca, não desanime. O show tem que continuar.