Phellippe

Existem feitos tradicionais que são conservados pelo coração de uma família. Relatos atemporais como estes não podem deixar de fazer parte do nosso convívio.
Diz a história que Sebastião chegou das redondezas de Roma por volta de 283 d.C. por meio de uma caravana (não as caravanas do Silvio Santos, que já existiam), nas costas do mar Mediterrâneo. O intuito do jovem Sebastião era afiliar-se ao exército romano para sutilmente acalentar de afago o coração dos cristãos, desolados pela tortura da guerra. Querido dos imperadores Diocleciano e Maximiano, recebeu a alcunha de capitão da guarda pessoal dos mesmos, a Guarda Pretoriana. Mas Sebastião, como todo cristão, olhava para todos. E pelo seu comportamento cristão com os prisioneiros, acabou sendo acusado de traição pelos imperadores. Maximiano ordenou que negasse o cristianismo. Nada feito. A sua execução aconteceu por meio de flechas e o seu corpo, atirado ao rio. Sebastião levou todas as flechas que lhe caberiam, mas não faleceu. Apresentou-se diante de Diocleciano,que não muito assustado, ordenou sua execução novamente, mas dessa vez por meio de espancamento. O corpo de Sebastião foi jogado no esgoto público de Roma e resgatado por Luciana (que posteriormente virou Santa), que o limpou e o enterrou nas catacumbas.
Sebastião viveu de 253 d. C. a 286 d. C. Morreu assassinado aos 30 anos de idade por apenas fazer o bem. Sebastião virou Santo, lenda, mito e a imagem cultuada no mundo inteiro de sua própria história é a de um homem atado a uma estaca, com flechas espalhadas dentro do corpo. Passou de homem para santidade, pois os atos humanos que lhe causaram mal não foram suficientes para matá-lo, e sobretudo o homem cristão que foi e representou para os romanos e qualquer um que não fosse um romano.
Mas o que tem São Sebastião com esse texto de hoje? Claro, eu tinha que contar o milagre e o nome do Santo para você entender.
Amanhã, dia 20 de janeiro, é o dia de São Sebastião comemorado em vários locais do mundo inteiro. Especificamente em Imperatriz, meu bisavô Simplício Moreira realizava uma grande festa em sua fazenda São Sebastião, aonde batizava e casava o povo da região. As festas eram enormes, com bebida e comida à vontade. Todo dia 20, nossa família se reúne e faz essa festa há 80 anos. Após o falecimento de Simplício, a bisavó Olívia assumiu as rédeas da festa não deixando o povo na mão. E a tradição foi passando. Quando da sua morte, uma de suas filhas, Graça Moreira, deu continuidade aos batizados e casamentos. São 80 anos realizando os sonhos de muita gente humilde, carente de apoio e necessidade, seja de um prato vasto de comida ou de sua própria fé. Lembro quando garoto, ao lado dos meus irmãos e primos, que era nossa avó e minha mãe colocando a gente pra trabalhar nas barracas todo dia 20 de janeiro. A farra era muito boa, mas sabe como é menino... a preguiça domina todos os ossos do corpo. Parecíamos São Sebastião, cheios de flechas, só que de preguiça. A história de São Sebastião se confunde com este momento único que minha família realiza. É um orgulho e um privilégio fazer parte de uma família tão dedicada ao social, ao amor para com o próximo. Isso corre no meu sangue e não posso negar no futuro. É uma tradição que irá continuar sempre, não podemos deixar que uma, duas ou três flechas nos impeçam. É mais do que uma questão de tradição. É uma questão de dedicação aos valores humanos. É um evento que se paga há 80 anos com o sorriso estampado no rosto de cada criança, pai e mãe ou casal apaixonado. Paga-se   com a felicidade dos outros. São Sebastião viveu sua vida sem pedir nada pra ninguém, a não ser fé no amor de Jesus. Que a flecha do amor ao próximo atinja você bem no coração, em cheio. Tenho certeza de que irá sobreviver, assim como São Sebastião. E parabéns, Simplício Moreira. A sua lenda vive no sorriso de cada cidadão abençoado no dia 20.

Phelippe Duarte
Cronista e poeta