-Pai, vai pra onde ?

- Vou no Seu Olímpio, filho.

Esse pequeno diálogo eu acredito, que dos meus 35 anos, escutei no mínimo uns 25. Uma conversa tão familiar e íntima para mim, como escutar um ‘’Deus te abençoe e Nossa Senhora te guie, da minha mãe’’. Talvez eu não soubesse ler e escrever ainda, e o nome do Seu Olímpio rondava pela casa. As idas do meu pai, Cleonir Ferreira Santos, Negão, para o bar do Seu Olímpio, eram datadas no calendário dele praticamente. Mas o que comove, não é a mesa do bar, ou as cervejas bebidas em meio a tanta conversa. Era a amizade que Seu Olimpio tinha para com meu pai e vice-versa. Certa vez, o velho Olímpio disse que o via como um filho, e por ele tinha um respeito muito grande. Como de costume, meu pai tinha o mesmo respeito e admiração, por um homem que desbravou o Rio Tocantins e toda aquela rua da 15 de Novembro. Sempre que ia por lá, pra época raiz do Seu Olimpio, meu pai levava tira-gosto pronto e algumas coisas para o velho Olímpio comer. O que ele podia, claro. Os amigos tentavam pegar um teco, mas meu pai falava: sai que esse daqui é do veio.  Certa vez, eles foram assaltados na porta do bar. Se o ladrão tivesse voltado, veria que eles tinham ficado ali, conversando sobre o caso. Os dias de visitar, o bar, apesar de não ter regras para isso, eram mais as quartas, sextas, sábados e domingos pela manhã.  Os amigos que mais lembro que estavam por lá com eles: Tio Roberto, Sergio Godinho, Luis Brasilia, Beto Padeiro, Zé de Sousa, Betinho, Ildon Marques, Colozinho, entre tantos outros. Às vezes meu pai ia sozinho, bater papo com o velho Olímpio. Mesmo após adoecer, ele passava lá mais aos domingos, com a mesma alegria de sempre, ao estar na companhia do homem que ele tanto admirava. Quando meu pai veio a falecer, em outubro de 2009, Seu Olimpio fez aceno para o cortejo parar. Estendeu uma bandeira preta grande, em homenagem ao velho amigo. Eu vi. Ninguém me contou. Outra situação marcante, foi quando Seu Olímpio fez uma confraternização lá nos fundos do bar, e estava a turma toda, cadeiras para todos. Ao lado dele, uma cadeira vazia. Ele disse que era a cadeira do Negão, e ninguém poderia sentar ali.  O homem que viveu e transcendeu a história de Imperatriz, fazia um gesto inesquecível para meu coração. Seguimos em frente, sabendo que um homem se vai e seu maior patrimônio,( além da obviedade da família) é o seu nome, seus atos e suas ricas amizades. Hoje eu carrego o orgulho de ser amigo de familiares do Seu Olímpio, e é com grande pesar, que não pude dar um abraço em todos eles. Como as palavras apenas contagiam a emoção, que aqui fique meu IMENSO RESPEITO, pelo Seu Olímpio, e o agradecimento de AMOR, pelo carinho que sempre teve com meu pai. Inesquecível.

Seu Olimpio nos deixou no domingo passado com a sensação de que nunca terá partido. É um daqueles personagens imortais, que você sempre estará falando dele ou vivenciando uma história em que ele esteve por perto.  A sensação de perda para os filhos, mesmo Seu Olímpio ter partido sem ir, aos 93 anos, é dilacerante, pois a dor não escolhe idade. Eu olho para os céus e vejo uma história que foi escrita com uma caneta que continha tinta infinita, mas que também chegou ao seu ponto final. Você abre o imaginário de um livro da vida, e se vê feliz, pelo privilégio de ter convivido e vivido, em, uma época incrível e romântica em Imperatriz, onde as pessoas se entendiam mesmo que por opiniões diferentes e eram menos cibernéticas sociais. Seu Olímpio viu 93 anos de uma cidade que não seria a mesma, sem ele. Se por ventura eu pudesse hoje ter o direito de fazer um tributo municipal ao homem, com certeza aquele pedaço da rua, em frente à Igreja Santa Tereza, seria chamada de Praça Seu Olímpio Bandeira. O momento em que vivemos no planeta, não tinha o direito de fazer isso, nem com ele nem com ninguém.  Eu declaro guerra ao que acontece. Seu Olimpio, com todo direito que me vejo de chamar, é Nosso Olímpio. Das águas do Tocantins. Da engrenagem de Imperatriz. Do amor da família e dos amigos. Que na sua chegada aí por cima Nosso Olímpio, só diga uma coisa para meu pai: agora, não tem mais hora para voltar pra casa.

Obrigado por tudo, velho guerreiro. Imperatriz chora, e suas lágrimas, são nitidamente o Rio Tocantins.

Phelippe Duarte é administrador e publicitário