Imperatriz viveu momentos de tensão. É como se o dilúvio tivesse voltado, e sem o aviso Divino, não houve tempo suficiente para 800 famílias salvarem a única certeza que tem na vida, depois da morte: que a noite, quando chegarem cansadas do trabalho, ou depois de um dia turbulento, não terão suas casas para deitarem. Não foi um conto bíblico. Não existiu Noé. Não teve arca. Mas sim, existe Deus. Não houve mortes na cidade de Imperatriz, mas os danos materiais foram praticamente irreversíveis. Os materiais que são menores do que os problemas emocionais. A água entrava na casa das pessoas sem o mínimo de educação. Sem convite, sem pressa. Parecia que a água estava se deliciando com o momento em que sua correnteza levava e não lavava, roupas, tvs, camas, brinquedos, fogão, geladeira... levava o suor das pessoas. Lavava a casa com tristeza e um silêncio ensurdecedor de riacho. A natureza não tem pena do que vê a sua frente. Na pior chuva que Imperatriz sentiu nas suas ruas, bairros e ruelas, não foram apenas famílias que ficaram desabrigadas, mas o coração de uma sociedade inteira ficou desolado, sem bater, sem conseguir bombear esperanças para o cérebro. Nós, que ficamos fora da zona do perigo geral, o que não é privilégio, e sim, sorte, estávamos atônitos. Houveram casos onde em bairros nobres afastados da cidade, uma casa teve água até o teto. A moradora se salvou, assim como seus dois cachorros. Mas todos os quase 20 filhotes caninos morreram. Não adianta chorar, derramar lágrimas. O medo de encher a cidade novamente, nos impede até de chorar. Mas de todo mal, sempre há um bem e uma lição a ser aprendida. Por mais que certas lições sejam clichês, estas são as que mais ensinam tipo ditado barato de chinês, ou de conversa fiada de boteco. De repente você vê o quanto vale uma simples roupa velha. Um travesseiro jogado no canto. Você mostra para seu filho, o quanto vale aquele brinquedo que você comprou com dificuldade, mas conseguiu colocar nas mãos dele. As pessoas observam o quanto é valioso um sapato, um chinelo. Enquanto peças de um dia a dia corrido não valem nada, é quando uma enchente as leva, que nos importamos. Velha lição da vida: precisamos perder para dar valor. Não é música sertaneja barata. É ensinamento de vivência. E o lado bom, qual é? A boa vontade do ser humano. Imperatriz se solidificou como um verdadeiro samaritano. Pessoas que não precisaram ter  a casa invadida pela voracidade da chuva,  para perceber que seus objetos pessoais que estavam jogados nos cantos da casa sem nenhuma serventia, poderiam sim, servir para quem perdeu tudo. E foi assim que se fez. Doações e mais doações. Voluntários. Muitos voluntários. Cestas básicas chegando em carradas. Dessa forma, eu vi sonhos começando a acordar do pesadelo, mesmo sem uma cama para sonhar. Imperatriz mostrou que se a água estava acima do nível, também demonstrou que o nível de amor entre o próximo, é muito, mais muito maior do que qualquer enchente. Imperatriz me orgulha. Solidarizo-me com todas as pessoas que perderam tudo, mas que viram que tudo o que tinham antes, não é nada, sem o devido valor. Não é nada, sem a família. Sem o amor. A enchente nos mostrou que a roupa que vestimos, não veste nossa essência. Somos seres humanos, falhos e imperfeitos, mas humanos. E mesmo que a casa não tenha mais teto, o que ela cobria que é o afeto, continua intacto. O afeto das pessoas para com as pessoas. O alagamento mostrou que o que temos de mais valioso é a nossa vida e a nossa fé no amanhã. Porque para as 800 famílias que estão desabrigadas e vivendo de doações, o que importa agora é continuar. É seguir em frente. Por que amanhã, ninguém sabe o que o rio pode trazer na correnteza... mas podem ter a certeza, de que sempre terá um farol, para guiar rumo a dias melhores.

Deixo aqui meu apreço, que não sou de declarar, e neste sentido, vejo que é merecido, a Prefeitura de Imperatriz, pela dedicação, que alguns dizem ser obrigação, e é, mas por ter ido além, por ter estado com os pés na água, junto a todos as famílias. Deixo meu desprezo, para quem quis ajudar, com o intuito de crescer em cima da tragédia alheia. Deus sabe quem é bom de verdade. E Ele sabe, que agora pode por enquanto, dar férias a São Pedro.