Com a morte de Roberto Civita, o luto torna-se algo meio que impraticável nos meios de comunicação. Como parar todas as mídias em homenagem ao maior editor de jornalismo do país? As notícias não param. Informações, destaques, manchetes, crônicas, textos curtos, tirinhas ou tiradas. Não há como parar os acontecimentos e publicá-los, mas seria o correto. Deveriam, semana passada, os jornais coloridos terem tornado-se pretos. Os jornais preto em branco, totalmente, sem o branco. As revistas vazias, como papéis nunca usados. A VEJA, como única homenagem, uma foto com a cara do seu criador, que a fez quando não poderia ter feito. Deixando toda a publicidade, todas as outras situações econômicas e textuais em branco, como se as palavras tivessem de luto, revoltadas. Palavras estas em português, da qual ela, firmemente, Roberto quis aprender para entender o país aonde o pai, Vitor Civita, escolhera para morar. Quis entender e apaixonou-se. Nascido em Milão, tomou o Brasil como seu país, o seu caso de amor. Morador de Londres adotou São Paulo como sua casa.
É inútil discutirmos sobre a morte ou o porquê dela e num livro de memórias descrever todos os passos que nos levaram até pertinho do fim. Ao menos quase fim. Roberto estava começando a escrever a sua história, então com 76 anos de idade. Gravou 16 horas de entrevistas até um dia antes da cirurgia que tiraria a sua vida. Justin Bieber, Bieber total, aos 16 anos, ou seja, 60 anos mais novo do que Civita, já tem escrita a sua biografia. Como nunca fui apresentado ao Best-seller, acredito que a história de vida do garoto deva começar da fralda e terminar na primeira playboy. Talvez, G Magazine. Não sei. A questão é saber o momento certo para contarmos nossa vida, se de bom agrado e de benéficos para si e aos outros, recebendo, portanto, homenagens em vida. Roberto Civita foi citado por vários personagens do Brasil, porém após sua morte.
De Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República, a Ann Moore, presidente da Time. A força do seu legado e a construção desta força fazem com que Roberto seja um dos maiores símbolos da educação e da comunicação no Brasil e no mundo.
Um homem de frases marcantes. Algumas publicadas recentemente, outras eu já tinha guardado para mim. E relembro, com o sentimento do qual preferia ter sido eu a ter dito tal relíquia. "Os jornalistas não levam nenhuma vantagem em mentir. Isso acaba logo ou abrevia a carreira deles. Já os políticos são treinados para mentir, isso é natural e aceito como um meio de evoluir no negócio deles. Então, existe sempre a probabilidade de que um jornalista nosso, bem selecionado, bem treinado e bem pago, esteja com a maior parte da verdade". Como era do meio dos artistas e políticos, sempre havia um embate pelas publicações reveladoras da VEJA. Roberto não fugia dos fatos nem dos argumentos. Todos eram publicados. Não importa se um dia a VEJA atacou o PT. Dilma prestou condolências à família e rasgou elogios ao dono da revista. Não importa se ele escancarou nas páginas amarelas entrevistas comprometedoras ou reveladoras. Não importa se em alguma matéria (quase sempre) vieram à tona as safadezas de Renan Calheiros. O aproveitador do dinheiro público lhe prestou belas palavras, assim como vários políticos sujos.
Roberto Civita deixa-nos o legado da verdade, mesmo que tivesse que enfrentar os mais poderosos políticos ou pessimistas do mundo inteiro. E dentre a sua maior herança, fica o exemplo de que é possível publicar a realidade sem temer o futuro de uma empresa de comunicação.

                               Phelippe Duarte