A gente nunca imagina que um dia certos atores podem morrer. Mas, sem necessariamente puxar o lado da tristeza da partida, é bom começar falando que eles não morrem, porque alguns, raros, imortalizam o que fazem na telinha. O homem morre, o personagem nunca. É o que posso dizer de Roberto Bolaños, o inesquecível criador e intérprete de Chaves e Chapolin, dois ícones do humor infantil mundial.
Há quanto tempo você não dá uma gargalhada de algo natural? Quanto tempo você não observa a inocência de uma criança e nota que nela está o mais puro sentimento de verdade e dignidade? Deu saudade? Dá uma olhada em um dos 290 capítulos que Roberto escreveu para Chaves e você dificilmente não deixará de rir da mesma piada várias vezes.
Chega a ser bobo, mas é engraçado. É hilário, é cômico. E muito divertido. Chaves não precisava mostrar a bunda na tela. Ele não precisava entrar em festas disfarçado, ou incomodar a privacidade alheia. Chaves não tinha necessidade de imitar as pessoas com uma dose de maldade, ou ser pejorativo, ao descrever alguém. Chaves não precisa de nada disso, pois era um personagem doce, que via nas coisas simples da vida uma forma de ser diferente, coloquialmente. Roberto Bolaños era um gênio das letras. Da criação, da interpretação sem perfeição, o que o tornava um ator que vestia e entendia diretamente o que representava. A sua morte aos 85 anos choca no mínimo quatro gerações de pessoas pelo mundo a fora que o conservam em mente na imagem daquele garotinho que morava dentro de um barril e que adorava sanduíche de presunto. Certa vez perguntaram a Bolaños por que ele não visitava o Brasil. Ele disse: “Não quero apagar das crianças e das pessoas em geral a imagem do Chaves, pois já estou velho”. Certamente, ele seria ovacionado no Brasil e reverenciado com todas as pompas que merece.
O estilo de humor do também produtor e roteirista Roberto Bolaños tem um estilo próprio e único. Porém nunca fora desafiado por ninguém, mantendo-se absoluto em comédias para todas as idades, sem apelação. Lembro de apenas Maurício de Sousa, criador da Mônica, Cascão e Cebolinha, chegar perto dele como super roteirista deste humor simples, sadio e gostoso.
Já o Chapolin Colorado era um herói covarde que sempre conseguia triunfar em suas missões, mesmo tentando de todas as maneiras ajudar o bandido, sem querer, claro. Um herói humano, como nós mesmos. Com medo, com vontade de sair correndo dos problemas da vida, mas que quando temos nossa marreta biônica, todos se espantam com a nossa astúcia. Às vezes a vontade de tomar aquela pílula de nanicolina do Chapolin e se esconder do mundo se faz viva em nós, mas ali era um lembrete do herói, para mostrar que, mesmo pequenos, podemos ser grandes e conquistar nossas vitórias.
E quem nunca quis entrar num barril para saber se o Chaves estaria lá dentro? Emociona não é mesmo? São personagens que foram criados em 1970 e que ganharam o planeta com a mesma força da fome de Chaves, um garoto de rua que, assim como nós, sempre busca carinho, atenção e amor o tempo inteiro. O esquete de Roberto Bolaños tinha como força o roteiro e a força do conteúdo dos diálogos, com ênfase maciça na ambiguidade. A produção não era lá essas coisas na pequena Vila em que vivia o Chaves nem nas aventuras de Chapolin, mas a criatividade sobrenatural de Bolaños superava qualquer dificuldade.
Perguntado sobre seu maior arrependimento, Bolaños disse que teria sido fumar por mais de 50 anos da sua vida. O pigarro o incomodava bastante. Disse, ainda, que preferia morrer do que perder a vida. E viveu. Na casa de milhões de pessoas ao redor do mundo inteiro. Roberto Bolaños nunca morrerá, porque nós não deixaremos o seu legado para trás. Na minha casa, tenho vários DVDs de Chaves e Chapolin, que vou passar para o meu filho como a “herança de um gênio da arte”. Quando começava uma batalha, Chapolin dizia: “Sigam-me os bons”. E é assim, Roberto, que você dever ter escutado o chamado de Deus quando, naturalmente, fechou os olhos e partiu, deixando-nos molhados de tantas lágrimas.
Pipipipipi... Pipipipi... nós sempre tivemos paciência com você, Chespirito. Vá em paz e obrigado. Sem você, o mundo e a minha infância não teriam sido os mesmos.
Edição Nº 15171
Roberto Chaves Bolaños Chapolin
Phelippe Duarte
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