É tão repugnante que faltam adjetivos esdrúxulos para qualificar os assassinos de Sandes Emanuel. É tão revoltante que chega a ser comum, esta revolta. Estes assassinos, que resolvem negócios na bala, na covardia, na pilantragem, não devem ser denominados de pessoas. São o tipo de lixo que Imperatriz ainda acolhe e não recolhe. Que joguem fora nestes casos hediondos a parte que diz: “todos têm direito de defesa”.
Sandes foi encontrado com seis tiros de bala na cabeça. O que a família do rapaz poderia pensar em fazer com os animais que fizeram essa barbárie? Esperar justiça? Que justiça? O injusto prevalece desde a primeira bala atirada. A indignação não comove nossos atos de perplexidade, mas indaga-nos o porquê de sermos tão incapazes e fracos de não reagirmos a uma situação tão brusca como esta crueldade.
Nós é que somos punidos. Nós também somos assassinados. Nossa coragem morre a cada tiroteio. Nossos amigos morrem e assistimos sem prever solução. Somos testemunhas mudas e surdas de um crime.
As investigações estão encaminhando. Algumas pessoas prestam depoimento, outras contam versões diferentes para o mesmo caso. Uma cidade que não tem segurança, não tem câmeras espalhadas pela cidade, tem deficiência protetora nos arredores dos bancos, não tem do que reclamar. Não há como, em hipótese nenhuma, Imperatriz reclamar da falta de segurança. Ninguém sente falta do que não oferece. Eu não consigo andar nesta cidade à noite, fazer uma caminhada, respirar o ar daqui sem temer ser assaltado ou correr um certo perigo de morte. Respiramos medo. E ter medo dentro da sua própria casa é tão incomum quanto normal por morar onde moramos.
Nos depoimentos coletados, de acordo com informações cedidas pela polícia, há índices de mistério, e ponto. O laudo dos peritos é que dará uma direção mais coesa sobre o caso de Sandes. Este assassinato tem os moldes da maioria dos insolúveis da cidade: incógnita. A rotina de um pistoleiro é simples em Imperatriz. Ele acorda cedo, recebe uma ligação, mata e fica escondido. O mandante é protegido. Depois, a polícia acha o pistoleiro, que entrega o mandante. O mandante vai à justiça. É solto. Tempos depois, matam o pistoleiro também. E o mandante ainda está solto. E, provavelmente, mandará matar mais pessoas. E nós ficaremos revoltados, indignados e punidos.
Sandes era um jovem empresário repleto de vida, planos e tinha muitos amigos por aqui. Deixou a família e namorada. Para muitos, uma perda insubstituível. Para a justiça, mais um simples assassinato. Para nós, um amigo bom que foi atingido pela escória, pela banalidade vital e costumeira da nossa região.
Em termos de morte, da consequência de um final triste e mórbido, ficamos complacentes ao susto da notícia, inertes à segurança pobre oferecida por nossa cidade e paralisados pelo medo de tomarmos uma atitude. Escrevo esta crônica com um pesar profundo, com os dedos encharcados de lágrimas, com os olhos baixos de incompreensão. Procurei palavras, não achei verbos, consoantes, pontos exclamativos que pudessem expressar meu desejo de não ter que escrevê-las. À consternação da família de Sandes, todo o meu carinho e afago. Sabemos por aqui como é perder alguém, mas não de uma forma que exija do coração uma chama de vingança.
E não adianta ficarmos revoltados. É comum matar por um chiclete em Imperatriz.
Que fiquemos revoltados com a saudade do amigo. Isto, sim, vai doer pra valer.
Deus nos proteja.

Phelippe Duarte
Cronista e poeta