Especificamente falando, gostaria de entender como foi ontem a ceia (que poderia ser cela) de natal dos ex-ministros de Dilma Rousseff. Abrindo a cela, ops, a ceia, Dilma fez um discurso que, se fosse monólogo, não teria tido tanto impacto: “Escolhas políticas não desmerecem o governo. Aproveitem o purê de batata e a quentinha”. Palocci emocionou-se. Dirceu fez um discurso vídeo-conferência a todos os ministros. O tema principal foi “Como cair e ainda continuar mandando e despachando em nome do governo”. Um best-seller entre os ministros. Dirceu não cobrou. Pediu preferência apenas nas coxas do peru, que é de seu agrado.
Estavam todos reunidos debatendo assuntos inerentes ao cargo ou não. Meticulosamente desastrados, estavam indignados pelo fato de Dilma não os segurar nos cargos e de imediato trocarem todos. Orlando Silva, ex-ministro dos Esportes, disse o seguinte: “Faria muito mais por mim e pelo esporte. Ainda nem tinha comprado meu novo jet, nem a mais nova versão da Ferrari. E pensar que eu me dediquei de corpo, alma e bolso para esse governinho, que só me demitiu porque descobriram que tenho um fraco por receber propina em garagem! Por favor, isso é inaceitável!”. A confusão tomava conta do jantar. Enquanto Dirceu pronunciava a importância do Caixa 2, o ex-ministro do Turismo, Pedro Novais, escancarou e protelou sua discordância perante todos: “É, que saudade do Lula. Ele teria segurado a gente. Eu teria pego um jatinho particular, pago com dinheiro público tranquilamente, ficaria na Flórida, ou Paris, não de férias, nem aproveitando as cidades, mas esperando a poeira baixar, me concentrando no governo, no dinheiro, nos meus bens, ah... no povo e suas reivindicações!”. A algazarra era tamanha que Dilma observava e quem a olhasse sabia que a presidente estava sem a coragem de tomar uma atitude mais drástica do que uma simples demissão de corrupto. Dilma tinha um sério problema nas mãos. Ela foi na cozinha e pediu que servissem mais champagne. Metade do problema estaria resolvida com as taças das estrelas cheias. O brinde seria importante para selar as novas metas metralhadas para 2012.
Em determinado momento, o ex-ministro da Defesa, Nelson Jobim, ainda não desacostumado a defender, pediu a palavra. Até Dirceu parou para escutá-lo, logo na hora em que o contexto explicava a continuação de um possível mensalão sem Marcos Valério. Nelson Jobim começou: “Acusaram-me de chamar alguns desta casa de idiotas. De falar que chamei uma ministra de fraquinha. E de afirmar que a maioria escreve para o esquecimento. Bem, estão certos. E eu caí porque fui honesto ou deixei de ser sincero?”. Todos ficaram em silêncio. Até que Dirceu disse: “Um brinde ao nosso companheiro Jobim. Falou em honestidade neste governo. Uma piada é bom para aliviar nossas tensões”. Chorando como criança, Palocci ouvia e não falava. Muitos dos ex-ministros presentes olhavam tal atitude e não entendiam. Até que Alfredo Nascimento, ex- transportes, achou ao lado do sapato do chorão: extrato bancário anual 2012: janeiro - R$ 05.000.000,00; dezembro - R$ 25.000.000,00. Alfredo rapidamente pediu, com o seu poder de ex-ministro dos Transportes, que alguém levasse Palocci para casa. Não civil, claro. Dirceu encerrou a palestra pedindo dinheiro e mais nepotismo para 2012. No canto da sala, Dilma disse que todos estão demitidos. Mas ainda moram no coração dela. “Coração não dá poder”, disse Luiz Sérgio, único ministro que demitiu-se. Dilma saiu da sala, olhou para os céus e pensou: “Escolhas políticas não são comigo”. Do alto da sala executiva em Brasília, Papai Noel perguntava-se: “Por que atendi esses pedidos de criança, por quê? Por quêêêêê????
Feliz Natal e mais felicidade para todos nós, como povo.

Phelippe Duarte
Cronista e poeta