Phellippe
U-BÁ! U-BÁ! PÁ-PÁ! PÁ-PÁ! ADA! ADA! BÔ! BÔ!
Cada vez que ouço meu filho Benício dizendo as primeiras sílabas sem ter a noção do que diz, eu sinto o prazer indescritível de ser pai. E eu também nunca sei exatamente o que dizer quando chega o Dia dos Pais. Claro, meu primeiro dia oficial, com meu filho nos braços. E o quinto domingo sem o meu pai.
Gostaria tanto de tê-lo aqui, hoje. Sinto tanta falta daquele conselho mais experiente, da malandragem que não machuca nem fere ninguém. Da piada dentro e fora de hora, das conversas mais simples até as mais desagradáveis. Sinto falta, sinto muita falta. Benício faz dez meses hoje e não tem sequer o discernimento do quão bom seria ter o avô aqui. Mas contarei histórias, piadas e bordões inesquecíveis do velho Negão. Que se foi novo.
É quase cômica a lei da vida quando começamos a vê-la pelo outro lado do qual nos propomos a ver, a ser, a sentir. Como cócegas nos pés, eu rio sozinho de tudo o que passei sem meu pai por aqui e na realidade indevida do meu sentimento, vejo que ao menos por este lado estou realmente sozinho. Mas eu sinto a presença dele em algumas ocasiões. Não sou espírita. Pelo contrário, morro de medo de imaginar um espírito do meu lado. Acho que eu correria. Claro, com Benício no colo.
Quando fui apresentar minha monografia, no final de 2010, estava meio nervoso, mas consciente do que faria e diria. Mas nervoso, o que era normal. A noite anterior foi uma dádiva. Eu não sonhei com meu pai, eu tenho certeza que ele apareceu para mim. Durante a noite, descansado este cérebro baleado, ele apareceu e disse, daquele jeito que só ele sabia dizer: “Calma paizinho, calma, “relax”, fique “tronquilo”. Calma, você vai passar”. Bem, eu acordei no outro dia com uma disposição intelectual ousada e o coração com batidas menos aceleradas. Passei e, no mínimo, tenho certeza de que ele estava lá assistindo. Não sei como se decifra sonhos ou pesadelos, mas acredito que buscamos um lugar seguro quando estamos descansados. Procuramos histórias divertidas ou caímos em angústias devido à preocupação do dia a dia. Nossa mente é um mar desconhecido, cheio de criaturas nunca vistas. Somos caçadores de nós mesmos, filhos pródigos dos nossos temores e alegrias. Órfãos de carinho o tempo inteiro. E por sermos tão órfãos do próximo, temos nossa família para o amparo eterno.
Benício veio na minha vida para dar sentido a tudo aquilo que eu buscava nos meus sonhos e pesadelos. Hoje meus sonhos são outros, meus anseios se modificaram. Eu busco todo dia ser um pai melhor e o mais presente que posso ser. E, quando posso, eu visito meu pai dentro de mim. Ele sempre tem algo bom pra me dizer ou apenas com uma aparição, me mostrando que está bem e feliz. Dedico este domingo ao meu filho, que é o reflexo de tudo o que eu queria ser hoje neste dia: um filho e ter um pai para abraçar. Mas, por outro lado, já tive este privilégio, durante 25 anos. Agora é a vez do meu filho ir à forra. Feliz Dia dos Pais e que a consciência permita-lhe dizer que você não precisa de um dia especial para dizer ao seu pai que o ama.
Pra você, então, um U-BÁ! ADA! ADA! BÔ! BÔ E PÁ-PÁ bem especial.
Phelippe Duarte
Cronista e poeta
Comentários