Honestidade. Um caminho no estilo corredor da morte para alguns políticos viciados nas entranhas do Brasil há décadas. Estrada de espinhos de ferro, tortuosa e longa demais para quem deseja escolhê-la. É preferível o caminho da desonestidade. Rapidamente, as coisas acontecem. O dinheiro da campanha volta, as comissões são pagas em dias, os honorários cada vez maiores, os assessores de 10 viram 100... e o povo reelege, por não conhecer os bastidores. Conhecem apenas o Programa Eleitoral.
Esta semana, assisti ao filme Candidato Honesto, que tem como personagem central o candidato João Ernesto, que veio de uma vida pobre, difícil. Após liderar o sindicato dos motoristas de ônibus, tornou-se deputado e, consequentemente, já com notoriedade nacional, disputa o pleito para a Presidência da República. No meio da campanha, João se vê envolto de um peso na consciência que o faz dizer apenas a verdade durante um certo período de tempo. O resultado é hilário e afeta o imaginário de quem sonha com um dia poder ver um político contar tudo o que sabe, o que vê e o que ouve dentro do sistema. Nós, brasileiros, votamos por muito tempo em nossos Joãos Ernestos. São políticos que fazem acordos, oferecem cargos, vendem-se e vendem, sem nenhuma esmola em troca. O dinheiro é alto. O cargo, mais alto ainda. O dinheiro é consequência, o poder se mistura às notas. Os Ernestos do Brasil, assim como o do filme, deveriam sofrer este peso de consciência. Mas, como sabemos, político não tem consciência, tem ambição pelo que lhe é oferecido e pelo que poderá oferecer. Existe um produto, e este é o voto. Ele é o fim, que é justificado pelos meios. Como seria um discurso de Lula se ele somente pudesse falar a verdade quando estourou o escândalo do mensalão? Como seria o discurso de Collor se ele somente pudesse falar a verdade minutos antes de renunciar? Como seria a versão de Sarney ao longo de seus 50 anos de vida pública sobre tudo que sabe? Afinal, ele é um arquivo vivo da história política recente do Brasil.
Imaginem um debate político presidencial entre Dilma e Aécio ano passado, se os dois pudessem somente falar a verdade? Seria um vexame aplaudido, o cenário mais triste recheado de alegrias, as falas mais caóticas dignas de um Best Seller. O que diria Dilma se perguntada sobre a Petrobras? Sobre Dirceu? Se cada João Ernesto votado falasse a verdade contra suas próprias leis e vontades, nós só teríamos a confissão do que a cada ano já é noticiado. Hoje basta um político dizer não às acusações. Se não há provas, não existe o fato a ser julgado. Se Roberto Jefferson, que delatou o mensalão, tive mais um pouco de João Ernesto, o que só diz a verdade, nós saberíamos de muito mais. Nós teríamos muito mais do que a revista Veja, tanto odiada pela oposição. Esta mesma oposição, que sempre deseja o posto que ela mesmo ataca ferozmente. O único desejo de opor na política é o de depor contra e assumir a favor. Nada mais do que isso.
O Brasil precisa de um João Ernesto regenerado. No final do filme, o filho tenta comprá-lo, dizendo que ele é assim, e que é normal aceitar propina. João diz que mesmo que já tenha se perdido, ele tem a chance de salvar o filho, que tanto o viu praticar a corrupção ativa, passiva e reflexiva. No discurso final, João renuncia ao mandato de deputado federal, à corrida presidencial e pede desculpas ao povo brasileiro. O filme é totalmente utópico, mas serve para dar umas ótimas gargalhadas sobre o tema.
E mesmo sem perceber, estaremos rindo do nosso Brasil durante o filme inteiro e do que o homem fez com a política.
Uma comédia digna de Oscar.
Edição Nº 15314
Precisamos de João Ernesto
Phelippe Duarte
Comentários