E o mundo não acabou à meia-noite do dia 01 de janeiro de 2012. Mas começou a desmoronar. Os dois prédios e o imóvel que desabaram no Rio de Janeiro deixam o país em estado de choque. Uma desgraça que suja de pó e sangue a vida de muitas famílias.
Osama Bin Laden, se estivesse vivo, bateria palmas.
Segurança pública no Rio já é um fato conhecido de todos nós, pela violência que infesta a cidade, como o mar invade a areia. É tão comum a falta de segurança por lá que seria mais interessante andar de colete à prova de balas, sensor de bala perdida e agora armadura contra desabamento de prédio velho. Exageros de seguridade à parte, a fiscalização só existe após tragédias como esta.
Os relatos das pessoas que estavam no momento da queda do prédio são mais do que a realidade pode suportar. Parece um pesadelo, daqueles que você acorda transtornado. Leia com atenção, é triste, mórbido e quando lemos, pensamos duas coisas: “Poxa, que pena, que situação lastimável”. “Ainda bem que estou aqui”. É inevitável.
“Eu estava no prédio do lado; de repente, eu pensei que era o restaurante deles. Eu saí correndo desesperado do jeito que eu estava”, disse um morador, coberto de poeira.
“Só deu tempo de a gente correr”, diz outro. “Quando a gente se deu conta, o prédio estava vindo na nossa direção”, afirma uma das testemunhas. “A gente correu, poeira tomou conta de tudo.”
Estes dois depoimentos são dos que escancaram mais a dor e a agonia de quem estava lá e tinha familiares dentro do prédio:
“Eu estava com ela no MSN aí caiu, liguei ninguém atendia, não consegui mais falar, ela não tinha saído, ela não se despediu, não falou nada, estou desesperado, preciso saber se ela está lá ainda”, afirmou o marido da suposta vítima, Vítor.
“A última vez que falei com ela foi às 20h e depois ela não atendeu mais o celular”, contou. “Minha esperança é que ela esteja presa em algum lugar. Eu não sei mais o que fazer. É uma angústia muito grande”, disse Roberto Flaviano, de 64 anos, que procurava notícias sobre a mulher, Ana Cristina Faria Silveira, de 51 anos.
Reproduzir estes depoimentos me deixa em um estado de consternação ilimitada. Nós ficamos revoltados quando há uma goteira em casa, ou uma parede começa a rachar, e ligamos diversas vezes pra alguém aparecer e consertar aquilo. Ou numa metáfora distante deste caso, quando está com problemas profissionais ou em casa e o mundo parece desabar na sua cabeça. E nós perdemos a cabeça com pequenos detalhes idiotas. Não temos culpa, obviamente. Pare e pense apenas na proporção do que houve no Rio de Janeiro. Pense no marido que, de repente, falando com a esposa pela internet, ela fica off-line e ao não conseguir falar com ela, liga o noticiário e o prédio dela está no chão, coberto de poeira. Não há pior morte do que a morte fatal. Até o fechamento desta crônica, 03 corpos tinham sido encontrados.
De forma alguma você pensa em colocar gritos de desespero em forma de depoimento, como estes num texto, e não ter explicação verbal para compreender e passar a sua visão dos fatos para os demais. Resta pensarmos na terceira coisa diante de tanto cimento coberto de sangue e que também é inevitável: Que Deus esteja com todos e que o tempo limpe a poeira no coração de cada pessoa que sofreu ou perdeu alguém. Prédios crescem novamente, pessoas nascem de novo. Quem nos deixa fisicamente-eternamente não volta mais.Ao lado dos prédios que caíram, está o Museu Nacional de Belas Artes.
Uma construção histórica, ao lado de um desabamento, que ficará para a história dos desastres nacionais. Mais uma arte da vida pendurada na parede da fatalidade.

Phelippe Duarte / Cronista e poeta