Mais uma vez a vida nos empurra contra a parede e nos faz parecer tão pequenos. Sinto que quando imaginamos ter o controle da nossa vida, vem Deus e fala: calma, o controle é meu, a Vontade é Minha. Somos pequenos. Somos medíocres.

Rafael Henzel, jornalista sobrevivente do acidente aéreo que em 2016 matou meio time e a delegação da Chapecoense, morreu de infarto na última terça-feira, ao passar mal depois de uma pelada com os amigos. A história de Rafael, que já era digna de cinema, vira uma saga emblemática, onde somente Deus tem a resposta. Na época do acidente uma das cenas que mais me comoveu, após a recuperação na Colômbia, depois da queda do avião, foi o filho de Rafael Henzel o vendo pela primeira vez. Não havia conversa. Não havia barulho. Havia o choro do pai ao ver o filho e o choro do filho, uma criança, ao saber que o pai que pensou ter partido, estava ali, praticamente sem nenhuma escoriação. O avião caíra em 2016. Um ano depois da tragédia, em dezembro de 2017, Rafael Henzel narrou o gol da Chapecoense, que levava o time para a libertadores de 2018. A transcrição do gol dele, chorando, soluçando, é uma das coisas mais lindas da história do futebol. Leia-se:

"O meu coração transborda de fe-li-ci-da-de!! Túlio... Túlio de Mello!  Um ano depois, a Chapecoense chega ao gol da Pré-Libertadores!!! Um gol extremamente importante!", narrou Henzel, chorando de emoção. "Como tem que ser: na luta, na garra... Como foi o ano, como foi a vida dos chapecoenses que há um ano choravam os seus mortos aqui na Arena Condá... E a gente chora de felicidade e de alegria um ano depois... A gente fica emocionado com o gol do Túlio de Mello.... Vai apitar. Terminou. A Chapecoense está na Pré-Libertadores da América! Oitavo lugar...

Naquele ano, a Chapecoense rapidamente mostrou uma força jamais vista no futebol. Um acidente que facilmente deixaria sequelas, que possivelmente na montagem de um time novo, poderia sofrer com derrotas e má gestão no futebol... não. Com um novo presidente, nova direção, novos jogadores, e um velho e conhecido narrador, a Chape foi a libertadores 2018. Um feito inédito. Rafael Henzel saiu de dentro de um avião pensando nunca mais pegar um voo para o céu. Mas a vida é um mistério. Cientistas e demais pesquisadores do universo, ateus e agnósticos, nunca desvendarão o mistério que apenas a quem eles não reconhecem, conhece o mesmo. Deus. Os cientistas dirão que Henzel sofreu um infarto por ter abusado demais nos últimos dois anos. Os ateus dirão praticamente a mesma coisa. Os agnósticos talvez imaginam que ele tinha uma missão na terra ainda, mas não sabem dizer precisamente quem o enviou. Os pesquisadores do universo, não sabem se veem He-Man ou reveem o Guerra nas Estrelas. Deus deu a Rafael uma sobrevida, para ele mostrar para nós, o que realmente importa na vida e o que nós não damos importância, como é sim, de extrema necessidade vital para todos nós. Viver. Acreditar que tudo que a qualquer momento tudo o que pensamos ter, não temos mais, e portanto, as coisas simples da vida, devem ser praticadas diariamente. A Rafael Henzel, todo o meu respeito pela vida que teve. A sua narração sobre o jogo da vida, quando falava sobre o acidente da Chape, ficará guardada para sempre em minha memória. Agora vá. O time da Chapecoense que morreu naquele fatídico 2016, estava à espera de um narrador para começar o campeonato celestial. Não terão mais motivo, para aguardar.