Phellippe

A maior luta e o maior obstáculo do papa Francisco não foi realmente andar no Rio de Janeiro dentro do seu carro, que, ao seu pedido, tem proteção somente na parte da frente. Todos os carros anteriores eram compostos por paredes transparentes, o que dava a visão do papa, mas não permitia-se aproximações. A maior luta do papa Francisco é unificar com uma nova mensagem o verdadeiro sentido da fé e da religião, que acima de todas as coisas tem os povos divididos e contraditórios em suas crenças mais enigmáticas. Francisco vem despido, não como a marca mais popular de São Francisco, mas despido de vaidades das quais a Igreja Católica mesmo impõe ao pontífice quando da escolha do mesmo. Não que isto seja uma crítica aos últimos papas. Mas é que o estilo adotado pro Francisco carece de muito mais elogios a todo instante, sem pouparmos absolutamente nenhum adjetivo pela conduta.
Nos anos em que o catolicismo estagnou, 90% dos jovens que antes declaravam-se católicos minaram para atuais 64%. Enquanto isso, a classe evangélica avançou de 6% para 22%, e isto nos últimos 30 anos. Mas são dados. Números. O papa passeando e acenando pelas ruas do Brasil, tocando e abençoando crianças levadas a ele pelos próprios seguranças do papamóvel, são cenas únicas, raras. A multidão que o persegue nesses setes dias mostra como os seguidores do novo preceito e conceito do papa estão prontos para ouvi-lo. Imaginem Silas Malafaia ou Edir Macedo passeando pelas ruas de Copacabana? Impossível vê-los, dentro de limusines exclusivas. E o aceno deles não demonstra em riste os cinco dedos das mãos, balançando suavemente da esquerda para a direita. Os dedos aparecem viçando o polegar com o dedo médio, numa indicativa diferente do que $abemos.
A fé que pede o fim das divergências sociais, a pregação em uma Igreja mais devota, aberta, livre para novas discussões e implantada em uma nova era de entendimentos entre todos através da igualdade, independente da religião que seguem, é o preceito de Francisco. O líder que merece respeito não pela condição e o cargo que ocupa. Mas pelo que demonstra ser. O espírito de amor e humanidade não é como alguns estão dizendo por aí: “Ah, esse papa é hipócrita”. “Isso aí é jogo de cena pra aparecer”. Eu digo para este povo em sua minoria que cita estas frases que é melhor acreditarem em pastores como Malafaia e Macedo. Doem suas casas, seus carros, seu patrimônio inteiro para eles. Eles não são hipócritas. Eles brigam na TV. Dizem barbaridades uns dos outros. Chamam um ao outro de ladrão, vagabundo, estelionatário, anjo do demônio e por aí vai. Esquecem que além dos bens materiais aos quais eles tanto defendem e pedem aos seus seguidores, existe o contato da fé, a força de Jesus Cristo que há muito tempo deve ter existido no coração desses cidadãos e que hoje são resquícios na mente capitalista e doentia da qual nascem mais igrejas e aficionados todos os dias. Uma pena usar o intelecto para ter da fé o seu sustento principal. E isso vale para todos.
O encontro dos jovens no Brasil, no momento pós-manifestação, pode servir como uma bênção para o nosso povo. Apesar da Igreja católica, através dos seus ensinamentos e dogmas, não acompanhar a rapidez com a qual os jovens vem saboreando mais a vida e seus dissabores, o respeito pelo que o catolicismo prega ainda é vigente no coração das pessoas. Os padrões e a tradição mítica da religião fizeram com que muitos jovens aderissem a outras crenças, quiçá o ateísmo ou alguns agnósticos. Mas é de certo que parte dos novos rumos que o catolicismo tomar agora, diante da nova ordem de Francisco, poderá ser capaz de unir novamente jovens e adultos tão perdidos em questões sociais e preconceituosas que vagam pelo tempo sem uma definição correta de valores e princípios. Francisco apareceu para combater as desavenças e os dogmas retroativos, sem ofender a sua Igreja e a Igreja dos outros. Veio para mostrar que todos estamos debaixo do mesmo céu, do mesmo Deus. Francisco despiu os brasileiros realizando missas em favelas como realizando missas em grandes basílicas.
Com o papa Francisco, argentino de nascimento, o brasileiro vê um Vaticano mais aberto. E a certeza de que novos tempos surgirão de acordo com os preceitos e ensinamentos reais de Cristo e a resposta acima de todas as respostas: a fé deve unir e não separar.

     Phelippe Duarte Cronista e poeta