Tem que saber separar. Primeiro você analisa os 35 bilhões para organizar a Olimpíada num país defasado politicamente. Defasado em todos os aspectos. A pílula para tentar combater o câncer merecia 35 bilhões para aprimoramento. Tanto dos 57% de dinheiro público quanto dos 43% privado dessa grana.
Os atletas, antes do início das competições, estavam deixando a chamada Vila Olímpica por falta de água e luz. Com 35 bilhões, não dá pra ter água e luz. Afinal, o Governo aumentou muito a conta! Temos que entender...
O técnico da seleção brasileira na Olimpíada, Rogério Micale, não concorda com o evento no país. Disse que essa grana toda seria melhor empregada na saúde. Você nunca viu e dificilmente se recordará de um técnico brasileiro, com uma Olimpíada no seu país, sendo contra alguma coisa. O cara ganhou meu respeito em 1.000 %, e mesmo o time não jogando o que deveria, as ideias do cidadão não competem com a de técnico. A busca do tão sonhado ouro tem um preço de latão. 35 bilhões dariam pra comprar uma medalha pra cada jogador e ainda tirar o país desse holocausto. País onde um ex-senador da República, Eduardo Suplicy, nas vésperas dos Jogos, deita no chão pra impedir que o oficial de justiça e a polícia retirassem famílias inteiras de um terreno da Prefeitura de São Paulo à força. Ele também foi retirado à força. Não importa quem seja, quando ele disse que é contra a violência a famílias inteiras. Não importa se ele fez para aparecer por concorrer a um cargo de vereador. Ele tem 75 anos, sabemos que não precisa mais disso. Uma medalha de ouro deveria ser dada para cada brasileiro que trabalha todos os dias e não tem a esperança de ver o seu país melhor.
Tem que separar, pois no outro lado, em cima de toda essa lama, está o esporte. Esporte que faz meninos e meninas vindos da pobreza que investimentos passados não os colocaram onde deveriam, e por cima disso tudo, foram campeões na vida, para chegar aonde chegaram. Meninas como Rafaela Silva, que ganhou o ouro no judô. E pensar que ela não tem nem o mínimo da conta de um cara como Neymar. Não comparo os esportes praticados, mas a situação de vida. Rafaela tem o famoso “olhos de tigre” do Rocky Balboa, personagem icônico do cinema americano. Tem a fome de vencer, de estar ali chorando em um hino nacional. Ela venceu o ouro, vai pra casa, passará alguns dias e tentará patrocínio por aí. Neymar veste uma faixa de capitão que não merece, não é de fato um líder. Tem milhões na conta. Não demonstra ter mais aquele olhar de tigre, aquela fome que mostrava no Santos. E, aos 24 anos, parece que está cansado, fazendo um favor ao vestir a camisa da seleção, mesmo nos dias em que joga muito pela amarelinha. Cansado deveria estar Zagalo, o velho lobo, que mesmo numa cadeira de rodas, aos 85 anos, levantou a famosa chama Olímpica. Dê para ele agora, neste instante, a camisa da seleção. Zagalo vai se emocionar, como se fosse a primeira vez. O esporte nos proporciona visões diferentes e de todos os lados. De Neymar à Rafaela Silva, o ouro merece estar no peito de quem faz o seu melhor, de quem vence a vida, e não esquece suas origens. O ouro vai de Joana Maranhão, atleta da natação, estuprada aos 9 anos de idade, continuou nadando, sendo desrespeitada hoje nas redes sociais por posições políticas que só cabem a ela, e chorando, seja na derrota ou na vitória. Vai até Michael Phelps, maior atleta olímpico da história, que estava roendo as unhas antes de uma semifinal de prova. Existem coisas muito acima da lama, que é o esporte. E nós não podemos esquecer que os políticos, sonegadores, tentam esconder no esporte toda essa vagabundagem que realizam. Por 35 bilhões investidos no país e não em uma Vila sem água e luz, talvez dariam de volta aos brasileiros a tão sonhada chama olímpica da esperança dentro de si. Essa Olimpíada serve apenas para mostrar que este País tem potência para sair do patamar do escárnio e ser melhor do que parece ser, pois no momento este é o País da vergonha, o esporte preferido de muita gente grande no comando do Brasil.
Hoje, no Dia dos Pais, a minha medalha de ouro é o meu filho Benício. Por ele, eu tenho os olhos de tigre, a fome de querer vencer todos os dias. Esta é minha maior vitória.
Em frente, Brasil! Feliz Dia dos Pais para todos. Pois o ouro já nasce com a gente.
Edição Nº 15682
O ouro já nasceu com a gente
Phelippe Duarte
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