Se você qualificar como sentimento de perda, não pode entender o que este texto tentará entender, ou interpretar o que minhas palavras tentam compreender há dois anos. São dois sentimentos que se confundem: a presença e a ausência.
Partindo do ponto da ausência, física, você devaneia sozinho, raciocinando sobre a vida, seus últimos gestos com alguém que você ama, mas que tem medo de amar, você percebe que o não-ver não é o melhor substituto para o tocar. O que podemos, então, chamar de injusto nesta vida? Seria tão deprimente se ainda chorasse pelos cantos, lamentando uma dor que tem como casa própria meu coração, ou seria insistência contra o destino que você mesmo construiu, que você mesmo procurou ter? E se nós lutássemos mesmo compreendendo o fim? É o que fazemos da vida, meus amigos. Todos nós, aidéticos, leprosos, cancerígenos, tuberculosos ou que sofrem de Alzheimeir, chagas, pessoas saudáveis, ou não. Teremos o mesmo fim. Que a medicina prolongue o inevitável. Que o nosso amor prolongue a saudade. Estamos juntos, no mesmo barco. E até doentes no alívio, de pensar: “Que bom, estamos vivos”. Esta retroatividade é que machuca. Você pode não ver essa dor em mim, mas é porque sou guiado pelo melhor dos sorrisos.
Partindo do ponto da presença, é muito estranho sentir presença em sonhos, ou em determinados momentos, em que você se sente sozinho contra o mundo. Quando parece que não há solução e que seus pés querem andar para trás, ou o seu corpo quer permanecer na cama... A presença é constante. Transformo a presença, neste sentido, quando escrevi isto com apenas 10 anos de idade e ainda tinha uma caligrafia louvável. Deu para entender, apesar do papel estar amarelado: “Papai, neste dia maravilhoso que o senhor completa 38 anos de idade, eu seu filho lhe dou este presente como prova do meu amor pelo senhor. Do fundo do meu peito, eu lhe dou esse presente. Com muito carinho, desde que eu vi o senhor pela primeira vez, eu pensei: quem é esse, será meu papai querido? Pai, eu te amo do fundo do meu peito e do coração, eu te adoro.”
Isto eu chamo de presença. Um menino de 10 anos, apaixonado pelo que ainda não entende ser como amor. Amor de pai, simples, puro, honesto. Transformo em ausência o que escrevi quando tinha 25 anos: “Um lutador, armado de fé. Um homem que viveu intensamente a vida, na plenitude de Deus, na salvação da sua alma. Cleonir Ferreira Santos, um homem querido e amado por todos. A alegria de viver contagiou o seu coração e espírito e a todos que o conheciam e não conheciam. Pai e esposo maravilhoso, digno, honrado. Amigo fiel. Sempre presente. E continuará para todo o sempre, amém”.
Presença e ausência, então, se confundem no meu coração o tempo inteiro. Depois de dois anos, você começa a entender que não é como a vida nos leva, e sim como levamos a vida, que pode mudar o destino final. Eu bem que sei isso e eu bem mais sei que posso ter quantos anos Deus quiser me dar. Mas ainda assim, será como todos os dias, desde que o vi pela primeira vez.
Todos esquecemos as lágrimas da partida, mas nunca os sorrisos distribuídos e recebidos, em 52 anos, que ficaram nas lembranças.
Eu nunca disse adeus, e sim obrigado.

Phelippe Duarte
Cronista e poeta