Phellippe
Continuam cagando na nossa cabeça. Diarreia brava. Em menos de poucas semanas da decisão de que permite o deputado federal Natan Dom Donadon exercer seu mandato atrás das grades, nós teremos novamente o julgamento do mensalão. Os réus foram condenados, mas o ministro Celso de Melo achou injusto condenarem os indefesos políticos de uma forma tão radical. Celso de Melo votou para que haja novos julgamentos de 12 dos 25 condenados do mensalão. Nas palavras do ministro, eu bato palmas para o silêncio repentino do nosso povo. Eis a fala da sacanagem:
“É dever do Supremo garantir aos acusados um julgamento justo, imparcial e independente. O Supremo Tribunal não pode se expor a pressões externas, como aquelas resultantes do clamor popular e da pressão das multidões, sob pena de abalar direitos e garantias individuais e levar à aniquilação de inestimáveis prerrogativas que a norma jurídica permite a qualquer réu diante da instauração em juízo do devido processo penal”.
O que é justiça, afinal? Não entendo o sentido de justiça em uma constituição volúvel dentro do que eram para serem leis. Um artigo diz para condenar. O outro diz para recorrer. Cabe um recurso. Cabem interpretações. Um homem decide mais do que os outros. Uma lei é maior do que a outra lei. O que é justiça, afinal? Assistir de camarote à bandidagem passar a mão no dinheiro público durante anos e, quando um ministro como Joaquim Barbosa resolve condená-los, é injusto, pois não tiveram o devido julgamento, assim como tiveram o benefício de votos favoráveis em algumas das condenações como formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Rasguem a Constituição, pois sempre prevalecerá o poder, a ganância. Os políticos estão acima de nós, pois nós os colocamos lá. E quando nós colocamos alguém acima de nossas cabeças, temos duas opções: aceitar decisões ou MUDAR A NOSSA PRÓPRIA DECISÃO. Foi o que vimos no meio do ano, na Copa das Confederações. Se apenas em eventos grandes houver desconforto popular em revolta às podridões dos políticos, o que é injusto perdurará sem data de validade.
Mas o brasileiro que invocou seus poderes de povo, agora observa o STF mudar a todo instante o que achava-se que já estava julgado. Mesmo que situações como a de Marcos Valério não mudem drasticamente (o operador do mensalão foi condenado a 40 anos de prisão, mas com o novo julgamento pode reduzir a pena a 37 anos), não interessa! Não existiu compaixão jurídica quando o réu roubou, extorquiu e sapateou com nosso dinheiro! Se Marcos Valério foi condenado a 40 anos de prisão pelo bandido que se tornou, então que cumpra o que já foi decidido. Celso de Melo deu um beijo na testa de cada político como quem diz: “Calma, é só um começo, daqui um tempo nós revogamos todas as decisões”. Acredito que toda palhaçada como esta esconde o grande segredo de todos. É muita ajuda para pouco santo. Existe mistério neste caso do mensalão que nós nem imaginamos. Estes benefícios, ao meu ver, servem para calar a boca de político que sabe muito e que ameaça delatar tudo o que viu, ouviu e disse. Por isso, defendo Roberto Jefferson. Um bandido de honra. Delatou todos. Mas acabou como todos, em tese.
O maior alvo do mensalão está solto. Continua a pescar em fazendas do Mato Grosso, como um marajá que é, como um líder nato que foi. Os bandidos têm mais uma chance de atenuar a pena e mais uma vez proteger seus interesses. Delubio, Dirceu, Genuíno e toda sua turma podem se safar até, porém serão vistos como bandidos de terno, vagabundos eleitos. Nomes sujos no Brasil. Honestidade posta em dúvida a todo instante. De uma coisa podemos ter certeza sobre o livramento e novo julgamento do mensalão: nós já sabíamos. Nada é muito fácil no Brasil,quando se fala em condenar quem tem o poder nas mãos. Palmas para Celso de Melo.
Realmente é justo julgar novamente quem nos rouba. Até a próxima cagada.
Phelippe Duarte
Cronista e poeta
Edição Nº 14812
Nós já sabíamos
Phelippe Duarte
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