Phellippe
Ôh Rita!!!! Cadê o Catuaba???
Era mais ou menos assim que, quando moleque, eu enchia o saco dos funcionários do Juçara Clube. Funcionários nem tanto. Pessoas da família, que zelavam pelo clube como se fosse sua própria casa.
Em uma época marcante, o Juçara Clube faz parte e fez um pedaço da história de Imperatriz. É um monumento, que agora está sendo tombado aos poucos, sem nenhum tipo de pena ou lembrança dos seus tempos áureos. Muitas famílias começaram ali. Casamentos, namoros, paqueras, aventuras, brigas, reencontros, passeios, traições, reconciliações. Torneios inesquecíveis de futebol, natação, vôlei, basquete e outras tantas modalidades. O Juçara está marcado para sempre na mente e no coração de quem o frequentou durante 40 anos. Posso dizer que foi o meu quintal de casa. Cresci correndo pelos corredores do clube. Parte-me o coração olhar para o Juçara e ver o quão nós fomos cruéis com ele. Um patrimônio no centro da cidade que nos deu tantas alegrias sendo derrubado de forma tão banal. Comprado a preço de banana, dizem por aí que os sócios remidos até hoje não receberam nada, após o clube ter ido à justiça e consequentemente leiloado. Não tenho informações precisas, mas falo por mim. Ninguém bateu aqui na porta da minha casa. Mas este não é o assunto principal da crônica. Quero falar do Juçara. Acredito que as estruturas do clube são engrenagens que fizeram Imperatriz desenvolver-se. Nos tempos de glória, nos fins de semana, e posso dizer também durante a semana, o clube vivia lotado. Tinha cheiro de vida, esperança. Cheiro de amizade, de amor, tranquilidade. Tinha cheiro de que as pessoas antigamente, em Imperatriz, se gostavam mais, eram mais educadas. Andavam mais juntas, realizavam festas e acontecimentos sempre unidos. Todos se encontravam no Juçara. Independente da classe social. Um dos lemas de chapa de campanha que ficou marcado chamava-se "integração social". Era o estilo do Juçara. Família. Paz. Diversão. Colônia de férias.
Lembro com carinho de Rita, Catuaba, Margaret, Dagmar, Domingos, Dona Maria, Marizet, Henrique, professor de natação ... (que posteriormente chegou a ser meu professor de literatura) e tantos que passaram pelo Juçara. Dos garçons da cidade, conheço metade. Fui criado no meio deles. Todos até hoje, em meio às festas atuais, falam com carinho do Juçara ou do meu pai, que presidiu o clube algum tempo. Seu Felipe era o mais antigo dos garçons e nos deixou tem uns anos.
Olho para o Juçara e sinto saudades de olhar a janela do meu quarto tremendo quando tinha show no ginásio. Reginaldo Rossi, Banda Sayonara, Fábio Jr., Claudinho e Buchecha, Banda Cavalo de Pau, Brucelose... foram tantos shows que nem tenho em conta. E o que dizer dos carnavais? Eram verdadeiros bailes a rigor, todos fantasiados. Confetes, serpentinas, homens vestidos de mulheres. O tradicional Baile Vermelho e Branco marcou época. A boate Contramão? Adorava ficar sozinho em casa com meus irmãos deixando a casa de pernas pro ar enquanto meus pais passavam praticamente o fim de semana pelo clube, terminando a noite na boate. Foram tempos sensacionais. Inesquecíveis.
Ver o Juçara caído hoje é mais do que um letreiro derrubado ou um muro chamuscado de cimento. É ver parte da história de Imperatriz no chão, humilhada. Dentro do clube, no meu pensamento ingênuo, rondam ainda as lembranças das pessoas que foram felizes e construíram o Juçara com amor, com paixão. Elas devem rodopiar pela entrada, passando pelo Seu Manel. Sentam ali, de frente à piscina, pedem uma cerveja e uma batatinha para a Rita. Daqui a pouco, Catuaba aparece para organizar a pelada. O Mangueira já está vestindo a roupa de juiz. À noite, as mulheres combinam com carinho a hora de chegaram ao baile ou à boate. Os filhos nadam na piscina, brincando sem imaginar que um dia haveria geladeiras ou fogões em cima da mesma. Vida eterna ao grande Juçara Clube. E que Imperatriz daqui para frente cuide mais dos seus patrimônios. Não é justo o que fizeram ao nosso querido clube. Que apareçam no futuro novas gerações que procurem saber realmente o que é e o que significa a integração social. O passado pode nos ensinar muito. O Juçara ainda existe. Está lá em amor. E estará dentro dos nossos corações para sempre.
Phelippe Duarte
Cronista e poeta
Edição Nº 14818
Meu querido Juçara Clube
Phelippe Duarte
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