São surpresas infelizes que deixam as lágrimas falarem. Lágrimas que nunca caíram, nunca molharam o meu rosto por um motivo tão comum a todos nós. E, neste exato momento em que me encontro, sinto inveja de algumas coisas. Não a inveja que prejudica, ou ameniza o ego de forma falsa, mas inveja do choro dos meus primos na triste notícia da morte de meu avô paterno, Anastácio. Inveja, porque eles tinham uma convivência com meu avô que eu nunca tive. Não que o meu amor seja menor. Nunca. A questão aqui é fazer esse amor chorar. E chorou, na lembrança de uma dor que hoje virou saudade. Sinto-me fraco diante das decisões de Deus e forte diante da fé em Deus. Situações que nos permitem analisar o que o tempo tem a nos oferecer, além de passar despercebidamente por nós. Mas aquela dor de ter tido uma convivência que agora não existirá mais talvez o tempo não tenha solução para casos assim. Talvez, eu passe o resto da minha vida imaginando histórias e fotos que nunca aconteceram. E o prazer de ter transformado este amor em presença é que me fará chorar baixinho todas as vezes em que lembrar do inexistente.
Nem tudo pode ser considerado perdido. Quando nos encontrávamos, a conversa era gostosa. Prazerosa. Um sentimento que, se não foi vivido como deveria ser, foi externamente transparente quando se viu presencial. Meu avô era um trabalhador incansável. Não por menos, já diziam que ele deveria parar de trabalhar. Mas quem irá parar alguém que sempre trabalhou na vida, justamente na idade em que estava? Forte, teve problemas de saúde mais sérios. E a licença para ir embora não fora dada por Deus. E simplesmente, em uma manhã de trabalho, vai como se nunca tivesse ido. Não somos nada. Não possuímos nada. Não somos donos de nós. A frase "O amanhã não nos pertence" é um clichê dogmático real. Portanto, ser humilde ou pretensioso, rico ou pobre, político ou voto, não fará diferença no final. Somos todos do mesmo saco. Iguais desde que nascemos. O patamar que faz as desigualdades nascerem e florirem chega ao ponto alto no livre arbítrio dos idiotas e no limiar das inteligências das pessoas sensatas. E a desigualdade que existe na expressão dos meus olhos em relação à expressão do rosto dos meus primos diferencia-se na quantidade de lágrimas que representam cada ano vivido com meu avô. De alguma forma, devemos olhar para dentro do nosso coração e ver que as pessoas que amamos e estão distantes moram conosco. E as melhores histórias e fotos que podemos ter são as de cada encontro e palavras ditas por estas pessoas.
Quando perdi meu pai e meu avô perdeu o filho, nunca esqueço o que ele me falou: "Meu filho, agora eu sou a imagem do pai de vocês, o que precisar, pode conversar comigo". Tive orgulho dele ao saber que, no momento de uma dor imensurável, ele quis me proteger paternalmente com essas palavras. Fiquei emocionado e, ao mesmo tempo, com a reação necessária. Pedi sua bênção e dei um beijo no rosto dele, como fazia em todas as vezes quando o via.
Agora, resta-me acabar com esta inveja sadia e abraçar minha avó, primos e tios, como nunca antes abracei. E, decididamente, olhar para o céu e ver que tenho dois anjos cuidando de mim e da minha família a cada respiração de vida que temos. Sei que, diante das circunstâncias, não é ser tão ingrato agradecer após uma partida. Mas é minimamente humano dizer ao meu avô Anastácio que toda vez que pedia sua bênção este gesto floria a certeza de meu amor óbvio por ele.
Foi de repente e viverá eternamente. Pai e filhos se encontram, afinal, mesmo contra nossa vontade e sem o consentimento do nosso amor terreno. Vá em paz meu avô. Mande um abraço apertado pro meu pai.

Phelippe Duarte
Cronista/Poeta