Phellippe

E mais uma vez falamos de racismo. Só que agora com uma situação bem diferente e talvez a mais irônica e inteligente possível até onde esse possível possa conseguir alcançar ou, em outras situações recorrentes, se aproveitar.
Semana passada nosso lateral direito da seleção brasileira e do Barcelona da Espanha, Daniel Alves, viveu um caso de racismo em campo, algo bem normal. Normal mesmo. Há 11 anos na Europa, o jogador sofre com racismo. E sempre ignorou o fato, diferente de outros jogadores que já chegaram a chorar e sair de campo. No momento em que iria bater um escanteio, a torcida jogou uma banana em Daniel. Ele não teve dúvidas. Deu dois passos para a frente, pegou a banana e comeu. Bateu o escanteio normalmente e continuou o jogo, o qual o Barcelona perdia por dois gols de diferença. Querendo desestabilizar o jogador, pois a atitude do racista é conseguir violentamente e mentalmente com suas ações agredir, o mesmo não obteve sucesso. O Barça virou o jogo. Daniel, ao final da partida, disse: “Meu pai sempre disse pra eu comer banana, pois evitaria cãibras... temos é que rir desses idiotas”.
A atitude do lateral direito gerou uma onda de apoio moral e social. A atitude de comer a banana mostrou que nós podemos engolir o racismo. Podemos mastigar essa parte podre da sociedade e, com muito prazer, cagá-la (Luís Brasília adoraria ler este “cagá-la”). O que me incomoda fora esta interpretação do gesto do jogador é o proveito tirado do staff do atacante Neymar, que também sofreu com racismo na Europa e tendo apenas um ano por lá. Logo após o jogo, Neymar postou uma foto dele e de seu filho segurando uma banana e embaixo adicionou a frase: “somos todos macacos”. O que será que isso quis dizer? Saiu em defesa de Daniel Alves ou foi para promover a imagem de Neymar num assunto sério? Neymar disse que defende o amigo. O staff do jogador disse que desde que Neymar sofreu racismo estava trabalhando para dar uma resposta ao problema. O que fica claro quando um jogador de alta exposição circula nas redes sócias falando “somos todos macacos” e referente à situação de Daniel Alves, ele ironizou apenas. Muita gente nas redes sociais demonstrou revolta, dizendo que não é macaco. Uma menina disse que não é macaco, porque macaco é bicho atrevido. Respondi que bicho atrevido é o racista. Alguns disseram ainda que vieram da costela de Adão. Outros, da ciência, da evolução das espécies, portanto aderiram. O que vejo é muita confusão em cima de um gesto monumental. Uma intuição genial do jogador ao comer a banana. E, independente de Neymar ou de sua agência de publicidade, a frase “somos todos macacos” reflete apenas a ideia de que somos iguais, independente da cor, religião ou sexo. Somos diferentes em ideais e escolhas somente. Ironizar e sorrir às vezes pode ser uma arma contra a estupidez do racismo. Acredito que a atitude de comer a banana inibirá um pouco os racistas dos estádios de futebol. A resposta dos jogadores que sofrerem com o preconceito talvez seja reagir de forma indiferente ou hilária, como fez Daniel Alves. A melhor luta contra o racismo é punir. Mas talvez, neste caso, ignorar é também ser superior. E comer a banana nem sempre quer dizer que somos todos macacos. Quer dizer que somos humanos. Humanos e iguais, com pensamentos diferentes. Uns pensam merda, outros pensam em respeito. E este clichê de que somos iguais é oportuno. Existem clichês que são dogmas pra qualquer assunto.
Um dos caras que mais admiro no meio artístico é Luciano Huck. Mas ele pisou na bola. Comercializou por 69 reais camisas com uma banana preta descascada com a frase “somos todos macacos”. Oportunismo e inteligência são bem diferentes. O abuso do oportunismo beira a burrice. Comer a banana, como eu disse acima, não é a arma mais certa, mas é a reação mais correta. Daniel Alves, assim como todos os que são atingidos pela ignorância do racismo, pode comer banana à vontade. Pois o único que continuará a ter mente de macaco é o racista.
#somostodoshumanos.

Phelippe Duarte